Artigos

Dos fortes protestos à Constituição: O que o Chile espera agora?

Num futuro imediato, os especialistas estimam que o triunfo categórico, com mais de 78% dos votos, ‘suavizará’ os protestos iniciados no ano passado

Patricia Nieto Mariño / EFE, O Estado de S.Paulo – 27 de outubro de 2020

A vitória do sim para uma nova Constituição em um plebiscito inédito no domingo abre um novo capítulo na história do Chile, considerado até 2019 um dos países mais estáveis da América do Sul. Mas até que a nova Carta Magna entre em vigor, o que espera o Chile? Num futuro imediato, os especialistas estimam que o triunfo categórico, com mais de 78% dos votos, “suavizará” os protestos iniciados no ano passado.

“A intensidade das mobilizações vai diminuir porque haverá uma forma de canalizar as demandas, mas elas não vão desaparecer completamente”, disse Claudia Heiss, cientista política da Universidade do Chile.

Chile – plebiscito

Além de serem a favor de uma nova Constituição, os chilenos decidiram, por mais de 79% dos votos, que o texto será redigido por uma Assembleia Constituinte, composta por 155 membros da sociedade civil (50% mulheres e 50% homens) que serão escolhidos em 11 de abril.

A paridade de gênero – ainda não se debate se haverá cadeiras reservadas para os povos indígenas – é uma das maiores conquistas do poderoso movimento feminista chileno. “Por muitos anos não nos surpreendeu o fato de que nossos representantes eram homens muito parecidos entre si”, disse Julieta Suárez, coordenadora no Chile da Rede Latino-Americana de Politólogos, que desejava que a paridade se tornasse uma “obrigação em qualquer eleição futura”.

As disposições do novo texto devem ser aprovadas por dois terços dos constituintes, o que levará a “grandes acordos” e obrigará à retirada das posições mais radicais, segundo Heiss. “O fato de não ter uma camisa de força como a Constituição de 1980 vai permitir que mais avanços social-democratas sejam feitos.”

Idealizada pelo neoliberal Jaime Guzmán, embora reformada mais de 50 vezes, a Constituição de Augusto Pinochet é considerada a mãe das desigualdades do país. “A Constituição não vai aumentar as pensões, nem melhorar a educação ou a saúde. O que ela fará é responder ao problema da deslegitimação das instituições, lançando as bases para atender a todas essas demandas”, disse Fernando Atria, constitucionalista e considerado o ideólogo dos protestos estudantis de 2011.

ARTIGO95

Print Friendly, PDF & Email

Leave a Reply

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *