Como a milícia transformou redes sociais em armas
O Estado de S. Paulo – 24 Aug 2021
Richard Stengel / NYT / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO É EX-SUBSECRETÁRIO DE ESTADO DE OBAMA
Os americanos se perguntam como aproximadamente 70 mil soldados do Taleban conseguiram demolir uma força de segurança bem financiada e bem treinada pelos EUA de 300 mil homens. A resposta não tem a ver com treinamento ou poder de fogo, mas corações e mentes. Durante anos, nas redes sociais e em publicações análogas, o Taleban tem clamado que é o real herdeiro do Afeganistão, que seus combatentes são mártires, os americanos são “invasores”.
Seu tema primário, que remonta aos anos 90, é de que o Afeganistão é uma nação muçulmana ocupada por não muçulmanos e Alá abençoou sua luta pela libertação. Não há muito que os EUA possam fazer – são afegãos falando para afegãos. Eles travaram uma guerra moderna – uma insurgência local obsoleta combinada com uma estratégia de mídia de fogo rápido destinada a intimidar o inimigo.
O Taleban compreende que a guerra de informação é a guerra moderna. Não tenta construir uma nova plataforma, mas se integrar ao ambiente existente e dominá-lo. Em 2019, segundo o Digital Forensic Research Lab, do Atlantic Council, o grupo criou mais de 60 contas no Twitter para corroer a disputa presidencial no Afeganistão.
O insight real dessa estratégia é revelado não pelo que fizeram, mas pelo que não fizeram. Não postaram imagens dos assassinatos nos últimos seis meses, por exemplo. Ao mesmo tempo, vêm colocando no Twitter imagens e vídeos de meninas na escola, mulheres indo para o trabalho. Um tuíte de um porta-voz do grupo mostra uma mulher usando uma burca, em Cabul, dizendo: “Esse sistema é muito melhor do que antes.”
ARTIGO779