Lira tenta influenciar na escolha de sucessor; Pacheco trabalha por aliado
Ander Porcella, Giordanna Neves, Gabriel Hirabahasi, O Estado de S. Paulo, 06/01/2024
Presidente da Câmara, onde três deputados já se colocam, quer evitar erro de antecessor, Rodrigo Maia, que perdeu capital político; no Senado, Alcolumbre busca consolidar seu nome
O ano de 2024 será de articulações para a definição dos nomes na disputa pelo comando das duas Casas do Congresso, que ocorre no início de 2025. Na Câmara, há ao menos três candidatos já colocados, com o desafio do atual presidente Arthur Lira (PP-AL) de manter relevância na escolha do sucessor, evitando o que ocorreu com o antecessor, Rodrigo Maia, que demorou a articular a candidatura de um aliado e foi atropelado pelo próprio Lira em 2021. No Senado, por sua vez, o ex-presidente Davi Alcolumbre (União BrasilAP) despontou primeiro como candidato, com o apoio de Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e agora tenta se consolidar como favorito.
Nos dois casos, o governo federal acompanha a disputa de perto, mas evitando acenos mais diretos para afastar as consequências de um passo em falso que possa colocar desafetos no comando das Casas do Legislativo.
A avaliação no Congresso é de que 2024 será decisivo para o futuro de Lira. A capacidade do deputado alagoano de controlar a própria sucessão, para manter influência interna, será testada. Segundo apurou o Estadão/Broadcast, o parlamentar tem dito a interlocutores que só quer discutir a eleição para a presidência da Câmara, que ocorrerá em fevereiro de 2025, depois de agosto. Mas os próprios aliados admitem que a disputa avança nos bastidores, mesmo contra a sua vontade.
POSTULANTES. O ano de 2023 terminou com três pré-candidatos em plena campanha pelo cargo: o líder do União Brasil, Elmar Nascimento (BA), favorito de Lira; o primeiro-vice-presidente da Casa, Marcos Pereira (RepublicanosSP); e o líder do PSD, Antonio Brito (BA). O deputado Isnaldo Bulhões (AL), que lidera a bancada do MDB, também é citado, mas até agora não entrou completamente na corrida pela cadeira de presidente da Câmara.
Se conseguir eleger sucessor, Lira sairá fortalecido politicamente, dizem integrantes do Congresso. O deputado quer manter sua influência na Câmara para concorrer ao Senado em 2026, quando a vaga de seu maior rival político, o senador Renan Calheiros (MDB-AL), estará em jogo. A aproximação com o governo Lula é parte dessa estratégia, segundo avaliam interlocutores de Lira.
Alguns membros do Congresso dizem que a vontade de Lira é comandar um ministério quando deixar a presidência da Câmara, em 2025. Mas outros afirmam que o maior trunfo do deputado alagoano seria manter influência interna na Casa. Há quem tenha visto o movimento do parlamentar para turbinar as emendas de comissão – serão R$ 16,6 bilhões em 2024 – como um indicativo de que ele deseja presidir a Comissão Mista de Orçamento (CMO).
Lira precisará mostrar capacidade de manter influência política e não repetir seu antecessor no cargo, Rodrigo Maia, que apostou na candidatura de Baleia Rossi (MDB-SP) em 2021, foi traído por aliados e viu seu candidato ser derrotado por Lira. Maia saiu da política e hoje preside a Confederação Nacional das Instituições Financeiras (CNF).
Nos corredores do Congresso, uma das explicações dadas para o fracasso de Maia em eleger o sucessor é que ele descumpriu acordos que haviam sido feitos com os deputados. Lira, por outro lado, é conhecido por entregar tudo o que promete. Mas há insatisfações. Alguns parlamentares reclamam que o atual presidente da Câmara concentra muito poder e toma decisões ouvindo apenas um grupo seleto de líderes partidários.
SOLO. No caso do Senado, até o momento, apenas um nome está quase abertamente na disputa para ser o presidente do Congresso a partir de 2025: Davi Alcolumbre. O parlamentar do União Brasil comandou o Senado de 2019 a 2021 e fez de Pacheco seu sucessor. À época, os dois eram do mesmo partido, o DEM. A sigla se fundiu com o PSL em 2022. Antes disso, porém, Pacheco já havia deixado a legenda para se filiar ao PSD e foi cotado como presidenciável pelo partido de Gilberto Kassab.
Um dos principais desafios para o senador se consolidar como o principal candidato à presidência da Casa em 2025 é a aproximação de outros dois atores relevantes na Casa: MDB e PL.
Acostumado a ocupar o comando do Senado desde a redemocratização, o MDB tem ficado em segundo plano nos últimos anos. O partido perdeu o posto de maior bancada para o PSD. O último emedebista a liderar a Casa foi Eunício Oliveira, de 2017 a 2019. Desde então, Alcolumbre foi eleito em 2019 pelo DEM e Pacheco, em 2021 e 2023, pelo DEM e pelo PSD, respectivamente.
O MDB ainda tem o desejo de retomar o protagonismo na base governista e se cacifar para voltar à presidência do
Senado. Em uma reunião de líderes do Senado com Lula, em novembro, parlamentares emedebistas tentaram mostrar ao presidente que foram mais fiéis ao governo que os do PSD.
APROXIMAÇÃO. O objetivo desse discurso não era o de conquistar nenhum espaço a mais no governo, segundo apurou a reportagem. Tratouse de um gesto do MDB ao Planalto, tentando mostrar que a bancada é confiável e que pode ter mais protagonismo dentro da agenda prioritária para os próximos meses. Além disso, também serviu para tentar ganhar mais pontos com o presidente.
O líder da bancada, Eduardo Braga (MDB-AM), e o vicepresidente do Senado, Veneziano Vital do Rêgo (MDBPB), são dois nomes citados para ocupar cargos de destaque na próxima legislatura. Veneziano disse ao Estadão/Broadcast ser “muito antecipado” falar sobre a sucessão à presidência do Senado. “Esse será um assunto que deve vir somente a partir do segundo semestre do ano que vem”, afirmou o parlamentar.
Por outro lado, a oposição ainda não definiu se deve apoiar Alcolumbre ou lançar um candidato próprio. Os gestos dados pelo ex-presidente do Senado são reconhecidos por parlamentares das mais diversas matizes ideológicas.
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