Parceria do governo com o BID deve sair do papel neste primeiro bimestre
Medidas avaliadas vão cobrir operações de pequeno, médio e grande risco e têm objetivo de ‘segurar’ investidor no País
Bianca Lima O Estado de S. Paulo, 06/01/2024
A parceria com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e o governo brasileiro para dar mais segurança para investimentos na “agenda verde” do País foi anunciada na última Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP-28), em Dubai, e deve sair do papel ainda no primeiro bimestre deste ano, segundo pessoas a par do assunto.
Na ocasião, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, falou sobre o entrave cambial: “Para o investidor que vai pensar no País, para ficar 5, 10, 15, 20 anos, esse é um assunto muito importante, porque ele não sabe a hora em que vai precisar de liquidez”, afirmou.
“E, se precisar de liquidez, numa hora que tiver uma desvalorização cambial abrupta, num ano incomum, isso pode significar a tomada de decisão de não investir no Brasil”, destacou o ministro. Para mitigar esse risco, estão sendo desenhados três instrumentos de acordo com o grau de volatilidade do câmbio.
SWAP CAMBIAL. Swap, na linguagem do mercado financeiro, é a troca de taxas ou rentabilidades – e, portanto, de riscos – entre agentes econômicos.
Pode-se trocar, por exemplo, a variação do câmbio pela oscilação da taxa de juros em um determinado período de tempo – nesse caso, o investidor ficaria sujeito à variação dos juros, e não do câmbio, que é muito mais volátil. Para os investimentos verdes, o horizonte é longo: de dez a 20 anos.
Esse mecanismo de swap seria indicado para momentos de risco mais baixo e poderia ter até US$ 1,4 bilhão disponíveis, como sinalizou Goldfajn na COP-28.
“O swap longo não tem mercado, porque é caro. O BID, que tem hoje, em projetos com o Brasil, US$ 1,4 bilhão, pode usar (essa cifra) para fazer um swap com o mercado e transferir o preço desse swap para o Brasil. E, do Brasil, (transferir) para o investidor. Qual a diferença? O BID tem uma carteira já estabelecida e é uma instituição triplo A (a classificação mais alta dentro do grau de investimento)”, afirmou o presidente do banco na ocasião.
LINHA DE CRÉDITO. Para situações de risco um pouco mais elevado, estão sendo avaliadas linhas de crédito em moeda estrangeira. Seriam linhas emergenciais para resolver problemas de caixa temporários, em caso de eventos de desvalorização cambial, as quais poderiam ser combinadas com o uso dos swaps.
“Muitas vezes, a volatilidade do câmbio é de curto prazo. Não é toda volatilidade de curto prazo que fica. Portanto, às vezes, o que se precisa é apenas permitir ao investidor sair do curtíssimo prazo e ir para o médio ou longo prazo”, explicou Goldfajn. Para isso, segundo ele, poderia ser criado um fundo. “Nós podemos trabalhar em um fundo que forneça esses recursos no momento em que (o investidor) mais precisa, que é o momento de volatilidade maior.”
COBERTURA. Já para momentos de desvalorização extrema e abrupta do câmbio, seriam criados mecanismos de cobertura. Ou seja, uma espécie de seguro. “O risco de cauda (ocorrência de evento extremo e improvável) é uma opção de proteger (o investidor) no caso em que a volatilidade não é nem a normal, em que você pode ter o swap, nem média, em que você pode simplesmente dar liquidez, mas sim de um tamanho que você precisa de proteção. E é nesse caso que você faz opções”, afirmou Goldfajn.
Um das possibilidades, portanto, seria o uso de uma espécie de opção de compra de dólares a ser acionada a partir de determinada taxa de câmbio.
“E como o BID poderia ajudar? O BID poderia ir ao mercado, com a sua reputação de anos e o seu triplo A, e tentar restabelecer esse mercado que, nas últimas décadas, não existiu”, disse o presidente do banco multilateral.
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