Reconstrução do RS terá seu custo avaliado pelo Banco Mundial
Por Priscila Mengue, O Estado de S. Paulo, 08/06/2024
Qual foi e será o impacto das enchentes recorde no Rio Grande do Sul? Uma equipe de especialistas do Banco Mundial desembarcará no Estado para quatro semanas de levantamentos, reuniões e relatórios. Além de danos estruturais e consequências econômicas, quantificará impactos sociais. Os trabalhos vão embasar parte das ações de reconstrução. Também são esperados representantes do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal).
Ao todo, mais de 2,3 milhões em 475 dos 497 municípios gaúchos foram afetados pelas inundações. O balanço parcial é de 172 mortos e 42 desaparecidos. Em entrevista exclusiva ao Estadão, o especialista sênior em Gestão de Risco de Desastres do Banco Mundial na América Latina e no Caribe, Jack Campbell, aponta que a avaliação vai considerar a necessidade de balancear tanto obras – com perfis mais adaptados às mudanças climáticas – quanto medidas de monitoramento, alerta etc.
“Vão ter limites de custos. Será preciso balancear investimentos estruturais e não estruturais para conviver com os rios. Não só na área metropolitana e no Vale do Taquari, mas em todas as bacias”, diz ele. “Complementar obras estruturantes, de proteção, com estratégias de planejamento de uso do solo, de criar espaços vazios”, cita.
Perguntado sobre o quanto se poderia ter evitado em danos e prejuízos por meio de medidas de prevenção, Campbell diz que é uma estimativa difícil de ser feita. Mas ressalta que “não se tem dúvida do custo-benefício geral de se investir na redução de riscos”.
ALERTA. Um dos pontos-chave desse novo momento será o monitoramento e alerta de cheias e outros riscos, com a modelagem da dinâmica em um contexto de mudança climática. Para Campbell, o País tem especialistas e tecnologia mais do que suficientes.
Como exemplo, cita Blumenau (SC), que tem uma plataforma e um aplicativo para toda a população acompanhar o nível dos rios, receber alertas de risco e ter acesso a outras funcionalidades. O sistema foi lançado em 2014, com o app em 2015, após a cidade catarinense sofrer com duas grandes enchentes, em 2008 e 2011. “O AlertaBlu é um case mundial, de ‘best practices’ global”, diz. E ressalta que decisões difíceis e impopulares precisam ser tomadas eventualmente, como remover famílias de áreas de risco, por exemplo.
Como outros especialistas, Campbell defende uma “reconstrução resiliente”, o que envolve um trabalho não de alguns anos, mas de décadas. “Agora é o momento para construir uma capacidade institucional para modelar, atualizar, entender os cenários climáticos, porque estamos falando de uma situação que pode piorar ou melhorar, dependendo dos cenários climáticos daqui a 25, 50, 100 anos.”
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