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 A nova indústria brasileira. Nova?

José Roberto Mendonça de Barros, O Estado de S. Paulo, 04/02/2024

A proposta do Nova Indústria Brasil é muito abrangente. Seus autores dizem que aprenderam com o passado, apontando que não existirá a ligação direta entre Tesouro e BNDES, como ocorreu na década passada. Embora isso não seja 100% correto, é certo que houve algum avanço.

A ideia das missões, concebida por Mariana Mazzucato, é criativa. Entretanto, ela não garante que dessa vez a política vai dar certo. A ambição da proposta é enorme, as metas não são claras e inúmeros são seus objetivos. Só a missão 3, “infraestrutura, saneamento, moradia e mobilidade sustentáveis para integração produtiva e o bem-estar das cidades”, abarca um belo pedaço do País e da economia.

Argumenta-se que os países ricos estão fazendo política industrial. Mas, entre outras coisas, eles têm excelentes sistemas educacionais e são abertos à economia internacional, o que evidentemente não é o caso do Brasil. Como podemos fazer tudo o que se propõe sem considerar esses dois elementos?

Além disso, os instrumentos elencados são os mesmos de sempre, incluindo subvenções, créditos tributários, requisitos de conteúdo local, margem de preferência e compras governamentais. O histórico de sua aplicação não é recomendável.

Mas, para mim, o que mais chamou a atenção foi que, após a enfática afirmação que aprenderam com o passado, o BNDES acena com um novo programa naval, que será puxado pela Petrobras, como o executivo da Transpetro já mencionou inúmeras vezes. Como o último desastre do programa naval ocorreu há poucos anos, pergunta-se qual foi o progresso que poderia justificar a construção competitiva de “navios do futuro”, mencionados pelo presidente do banco. Os estaleiros melhoraram sua estrutura de capital, o quadro da mão de obra, o seu nível tecnológico?

Ao contrário, as empresas do setor têm passado por crise e estagnação. O ilustre público merece, pelo menos, um estudo justificando por que agora vai.

* * * * *

Milei é mais um do tipo “contra tudo que está aí” que arrisca e ganha a eleição. Chega ao poder sem preparo ou com alguma proposta que faça sentido.

Assume um país com grave desarranjo fiscal e sem reservas cambiais. Desvaloriza o dólar, resultando na maior inflação do mundo. Também não tem maioria no Parlamento.

Apresenta um projeto com 664 artigos ( !!!! ) que tem de tudo. Bastante reduzido, toda parte econômica saiu da lei. Não se sabe o que vai sobrar até a votação final no Senado.

Não tem condições de dar certo.

ARTIGO1010

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One Comment

  • MARCIO ADRIANI TAVARES PEREIRA

    Vamos analisar as diferentes perspectivas sobre a proposta da Nova Indústria Brasil, à luz da visão quântica da aliança do federalismo trino no Brasil:
    Benefícios Potenciais:
    Diversificação Econômica: A proposta da Nova Indústria Brasil busca diversificar a economia brasileira, reduzindo a dependência de setores específicos e promovendo o desenvolvimento de novas indústrias e tecnologias.
    Inovação e Criatividade: A ideia das missões, inspirada no conceito da economista Mariana Mazzucato, promove a inovação e a criatividade ao estabelecer metas desafiadoras para o desenvolvimento econômico e social.
    Infraestrutura Sustentável: O foco em infraestrutura, saneamento, moradia e mobilidade sustentáveis pode contribuir para a melhoria da qualidade de vida nas cidades brasileiras e para a integração produtiva do país.
    Aprendizado com o Passado: A proposta reconhece erros do passado, como a ligação direta entre o Tesouro e o BNDES, e busca corrigi-los, sinalizando um aprendizado com as experiências anteriores.
    Críticas Construtivas:
    Falta de Clareza nas Metas: A proposta pode carecer de clareza nas metas estabelecidas, tornando difícil avaliar o progresso e o sucesso das políticas propostas.
    Dependência de Instrumentos Tradicionais: A utilização de instrumentos tradicionais, como subvenções e requisitos de conteúdo local, pode não ser suficiente para impulsionar o desenvolvimento econômico sustentável, especialmente considerando as limitações do histórico de sua aplicação.
    Desafios Estruturais: A falta de um sistema educacional robusto e a relutância em abrir a economia internacionalmente são desafios estruturais que podem minar os esforços para implementar com sucesso as políticas propostas.
    Necessidade de Justificativa: Projetos específicos, como o programa naval mencionado, exigem uma justificativa sólida para sua viabilidade, especialmente considerando os desafios enfrentados pelo setor e os erros do passado.
    Síntese: Embora a proposta da Nova Indústria Brasil apresente potenciais benefícios, como a diversificação econômica e o estímulo à inovação, há desafios significativos a serem enfrentados, incluindo a falta de clareza nas metas, a dependência de instrumentos tradicionais e os desafios estruturais do país. É fundamental abordar essas críticas de forma construtiva para garantir o sucesso e a eficácia das políticas propostas.

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