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A peregrinação de famílias em busca de seus bichinhos

Redes sociais têm ajudado donos a se reencontrarem com pets perdidos no RS; governo do Estado lançou mapeamento

Por Priscila Mengue, León Ferrari e Vicenzo Calcopietro, O Estado de S. Paulo, 17/05/2024

“Perdemos tudo o que tínhamos e peço ajuda para encontrar nossos bens mais preciosos”, diz uma mensagem seguida de informações sobre os vira-latas caramelo Guri e Rapariga, desaparecidos em Eldorado do Sul, município quase inteiramente tomado pelas enchentes que atingem a região metropolitana de Porto Alegre. Outras tantas famílias têm feito publicações semelhantes em várias cidades gaúchas, assim como peregrinado de abrigo em abrigo e revirado as redes sociais atrás de pistas sobre o paradeiro dos animais de estimação.

Nas publicações, muitos lamentam a situação que os separou de seus pets. Há aqueles que estavam trabalhando e não conseguiram voltar, quem foi separado na urgência do resgate, outros que não imaginavam que a inundação duraria tanto tempo. São pessoas que lidam com o trauma do desastre climático, muitas em abrigos, e a angústia de não ter notícia dos pets. Algumas perderam os celulares e ficaram (ou ainda estão) com dificuldade de locomoção.

REDES SOCIAIS. Uma força-tarefa tem sido criada por voluntários nas redes sociais e em diferentes cidades para facilitar esses reencontros. Grupos de resgate e abrigos provisórios postam vídeos emocionantes desses momentos, enquanto se busca espalhar fotos e dados de milhares de cães, gatos, cavalos e outros bichos perdidos e achados. Além das dificuldades de comunicação, os dados sobre animais resgatados e desaparecidos seguem pulverizados por essas páginas e perfis.

Junto do namorado, a social media Gabriela Peixoto Souza criou o “Encontre seu Pet Canoas”, com perfil em rede social e plataforma online. Ao todo, mais de 3 mil animais foram cadastrados. “Estava ficando confuso, pois (diferentes perfis) misturavam animais sendo procurados com os resgatados”, conta. “Usamos essa ferramenta rica de informação (Instagram) como alavanca para o acesso ao site, que filtra os pets por cidade, espécie, raça etc.” O casal tem se desdobrado para cadastrar todos os animais, com o maior número de características possível, porém há a dificuldade dos abrigos e voluntários em recolher tantos dados diante do volume de novos pets resgatados a cada dia. “Nem sempre há alguém que possa tirar fotos de todos os animais e postar nas plataformas, quem dirá informar se é macho ou fêmea.”

MAPEAMENTO. Do cavalo Caramelo a outros tantos anônimos, mais de 11,9 mil animais foram resgatados das cheias que devastam o Rio Grande do Sul, segundo a Defesa Civil. O governo do Estado tem destacado que os dados são parciais diante do alto número de salvamentos por voluntários e organizações sociais. Um mapeamento dos espaços que receberam os bichos foi lançado na terça pelo Gabinete de Crise da Causa Animal do Estado. Segundo voluntários, os resgates salvaram cães, gatos, cavalos, coelhos, calopsitas, porcos, galinhas e outras tantas espécies. Parte desse contingente se reencontrou com as famílias, enquanto outros estão em abrigos e lares temporários.

A força-tarefa de resgate e cuidados desses animais envolve milhares de voluntários, alguns até vindos de outros Estados, assim como agentes do poder público. Há veterinários, biólogos e pessoas das mais diversas profissões.

As buscas ainda estão em curso na região metropolitana de Porto Alegre, onde as enchentes reduzem em ritmo lento. Também há especial preocupação com o sul do Estado. Em Pelotas, os estádios de dois times de futebol – Esporte Clube Pelotas e Grêmio Esportivo Brasil – têm recebido animais de famílias moradoras de áreas evacuadas.

Entre voluntários, fala-se na necessidade de discutir medidas para as próximas semanas, a fim de facilitar o reencontro dos bichos com as famílias e – no caso daqueles que restarem sem lar ou já estavam em situação de rua – a promoção de uma grande campanha de adoção quando a situação estiver mais “normalizada”. Ainda há a preocupação na continuidade e ampliação desses trabalhos também como medida de saúde pública.

DEBILITADOS. Segundo os voluntários, os animais costumam chegar um pouco debilitados e estressados, com fome, molhados, às vezes feridos. Hospitais de campanha e ambulatórios veterinários foram improvisados no entorno das áreas de resgate e locais referência, uma parte ligada à sociedade civil e outra ao poder público.

Os procedimentos básicos após o resgate dos pets são secar, alimentar, acolher e avaliar o estado de saúde. Se estão sozinhos, são levados a abrigos ou lares temporários. No caso de famílias desabrigadas, parte dos bichos fica em áreas reservadas, principalmente os de maior porte.

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