Aperam trava investimento com ‘invasão’ de aço chinês
Empresa alega que em alguns nichos de aplicações de aço inox a participação do importado já supera os 40%
Por Ivo Ribeiro, O Estado de S. Paulo, 15/04/2024
Pressionada pelo ritmo das importações de aço oriundas da China, a Aperam, principal fabricante de aço inoxidável da América Latina, decidiu manter suspenso um investimento superior a R$ 600 milhões em sua fábrica em Timóteo (MG), na região do Vale do Aço. Esse aporte integra um pacote aprovado em 2022 para melhorias tecnológicas e enobrecimento do mix de produtos da empresa. Apenas parte foi realizada.
Frederico Ayres Lima, presidente da Aperam South America, disse ao Estadão que as importações “desleais” de aço chinês continuam em ritmo forte e que espera que medidas sejam adotadas pelo governo federal, no âmbito do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic), para conter a entrada desenfreada do produto importado. “Esse desvio comercial, acelerado desde o início de 2023, vem penalizando a indústria”, diz.
O executivo ressalta que os primeiros meses deste ano ainda mostram um cenário preocupante por conta do excedente de oferta global de aço e do crescimento fraco da demanda em mercados do Brasil e da América Latina. “Se nada for feito no curto prazo, vamos ter pela frente mais um ano difícil”, comentou Lima.
Em alguns nichos de aplicações do aço inox, segundo a Aperam, o material importado já ocupa mais de 40% do consumo aparente do mercado nacional – o dobro da média da indústria siderúrgica geral, que abrange outros tipos de aços, de automotivos ao vergalhão usado na construção civil. O inox tem diversos usos, que vão de produtos de decoração e cosméticos até nos setores naval, aeronáutico, hospitalar e destilarias de etanol.
TARIFA EMERGENCIAL. Em outubro, com a justificativa de aumento da entrada de aço de vários países, com destaque para China, Rússia e Coreia do Sul, representantes do setor pediram ao governo que adotasse uma tarifa emergencial de 25% para estancar as importações. Desde então, houve várias reuniões com os ministros Geraldo Alckmin (Mdic) e Fernando Haddad (Fazenda), e com diretores da Secretaria de Comércio Exterior.
Até o momento, no entanto, apenas algumas atualizações de alíquotas foram feitas na Câmara de Comércio Exterior (Camex), voltando a taxação a 10,8% na maioria dos tipos de aços, com nenhum efeito nas compras do produto do exterior. No caso do inox e dos aços elétricos, fabricados pela Aperam, as alíquotas atuais são de 12,6%.
“São insuficientes para poder competir com o aço chinês que chega ao País”, reitera Lima. Ele lembra que Estados Unidos, México e recentemente o Chile adotaram tarifa de 25% para o aço importado, enquanto a União Europeia tem mantido medidas de salvaguarda às importações.
Lima ainda nutre a esperança de que o governo se sensibilize com a situação e adote “medidas necessárias para preservar investimentos e empregos no setor de aço especial plano”, ramo de atuação da Aperam. Ele menciona, por exemplo, que o aço elétrico é essencial para a transição energética, pois é usado em motores e em estações de carregamento de baterias de carros elétricos.
NOVO EQUIPAMENTO. A fase 3 do plano de investimento da Aperam, sem data prevista para ser retomada diante do atual cenário, contempla a instalação de novo laminador a frio de bobinas de aço e previa gerar 1,5 mil empregos temporários durante as obras. O equipamento, diz Lima, permitiria agregar valor em parte de sua produção de aços-carbono (mais comuns), podendo fazer mais aço inox e elétrico.
Apesar do aumento dos importados, o executivo informa que a empresa concluiu no mês passado o investimento de R$ 588 milhões da fase 2, de modernização do laminador a quente, que tem 850 toneladas de capacidade por ano.
Toda a produção da Aperam no Brasil é inicialmente beneficiada nesse equipamento. “Passamos a fazer material com espessuras e larguras que a instalação anterior não conseguia atingir”, diz.
Os investimentos da fase 3, suspensos, seriam desembolsados entre este ano e 2025.
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