Após 3 décadas da fim da hiperinflação, Brasil tem de superar novos desafios/‘Em 40 anos, podemos ser um país desenvolvido’
Economistas que forjaram o Plano Real contam bastidores da operação e indicam o que o País tem de fazer agora para superar o baixo crescimento e a desigualdade
Por Luiz Guilherme Gerbelli, O Estado de S. Paulo, 30/06/2024
‘Em 40 anos, podemos ser um país desenvolvido’
Chico Lopes, Ex-presidente do Banco Central
Chico Lopes atuou como assessor informal da equipe que foi para Brasília colocar o Plano Real de pé. Passou a integrar o governo de forma oficial quando nomeado diretor do Banco Central no primeiro mandato de Fernando Henrique Cardoso. Depois, em 1999, foi apontado para presidir a instituição.
No comando do BC, teve uma passagem polêmica. Ficou apenas 21 dias no cargo e nem chegou a ser empossado. Num momento em que a âncora cambial ficou insustentável, Chico criou a chamada banda diagonal endógena para tentar alguma flutuação do real. “Foi uma coisa mito custosa pra mim”, afirma. Hoje, se diz otimista. Em 40 anos, a gente pode virar um país desenvolvido, algo parecido com a Itália hoje.”
A presidência do sr. foi bastante curta no Banco Central. O sr. se arrepende de ter aceito o cargo?
Foi uma coisa muito custosa para mim. A gente tinha uma ideia de que tinha de ter uma mudança ali, tinha de flexibilizar, tinha de soltar (o câmbio). O Fernando Henrique não queria soltar o câmbio. O Fernando Henrique queria baixar os juros. E aí veio essa ideia. Eu disse vamos operar a banda. A gente tinha uma banda teórica, vamos operar, mas vamos fazer de um jeito que, quando o câmbio estiver no teto, a banda cresce mais devagar. Era a banda endógena. Era uma proposta que o mercado não entendeu. E na verdade, na hora que você mexe no câmbio, não tem como ser uma coisa intermediária. Se mexer um pouquinho, vai mexer tudo. Foi traumático, e aí veio essa confusão, do Marka e do Fonte (Cindam). Esse processo maluco. (Lopes foi acusado de favorecer os dois bancos na compra de dólares pelo BC, ele afirma que foi absolvido em todos os processos).
Hoje, o País tem alguma agenda necessária como foi o Plano Real?
Eu acho que o Brasil não precisa de nada. Eu acho que a montagem institucional está feita. É só continuar operando. Eu sou muito otimista. Não tem graves problemas, como bancos estaduais. Tem um balanço de pagamentos excepcional. O Brasil tem um potencial enorme. É claro que não pode ser irrealista. Tem de entender que é um processo. Em 40 anos, a gente pode virar um país desenvolvido, algo parecido com a Itália hoje, uma Grécia, mas eu acho que isso envolve manter as instituições.
E a questão fiscal, que é sempre um problema?
A gente evoluiu ao introduzir teto dos gastos com o Meirelles e, agora, acho que evoluiu com Haddad. Uma evolução que eu acho correta.
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