Após 3 décadas da fim da hiperinflação, Brasil tem de superar novos desafios/‘Fazer o Brasil ser um país de alto crescimento envolve reformas’
Economistas que forjaram o Plano Real contam bastidores da operação e indicam o que o País tem de fazer agora para superar o baixo crescimento e a desigualdade
Por Luiz Guilherme Gerbelli, O Estado de S. Paulo, 30/06/2024
‘Fazer o Brasil ser um país de alto crescimento envolve reformas’
Gustavo Franco Economista, assessorou a Fazenda na elaboração do Plano Real
O economista Gustavo Franco construiu a sua carreira acadêmica estudando hiperinflação. Com a decisão do PSDB de aceitar o Ministério da Fazenda no governo Itamar, Gustavo Franco, ao lado de Edmar Bacha e Winston Fritsch, fez parte da primeira equipe de Fernando Henrique Cardoso no comando da pasta. Em 1993, foi nomeado secretário adjunto de Política Econômica. “O Plano Real não era um plano de crescimento. Era um plano de saúde para a economia, de retirar o País da cracolândia monetária.” Para o futuro, Franco diz que o País precisa concretizar suas reformas estruturantes. “Fracassamos em matéria de política de crescimento por causa de ideias velhas e obsoletas sobre mercado interno, substituição de importação, protecionismo. E as reformas têm a ver com isso.”
Quando chegam ao Ministério da Fazenda já havia uma certeza do que fazer?
Não se chega lá em Brasília com o remédio pronto. Tem mais. O jeito de fazer é importante. Você chega com ideias gerais, chega com um acervo de experiências de outros países, tem o acervo da nossa própria experiência fracassada de combate à inflação, que é muito valioso.
Faltou algo no plano na avaliação do sr.?
Sempre que me perguntam eu digo que, sim, faltou uma coisa. Teria feito uma enorme diferença. Era ter feito a revisão Constitucional em 1993. Se tivesse sido feita, teríamos economizado um enorme volume de energia que foi despendido para passar Emendas Constitucionais com quatro votações nas duas casas para fazer, por exemplo, a reforma da Previdência.
Hoje, o cenário é bem diferente, mas não conseguimos entregar uma inflação de 3% como outros países da América Latina. Por quê?
Estamos numa faixa de variação de inflação que, para quem como eu viveu aqueles tempos de guerra, que diferença faz, né? A gente superou a hiperinflação. Vamos festejar isso, mas com a cautela de quem sabe o que foram os piores momentos do alcoolismo. O Plano Real não era um plano de crescimento, de desenvolvimento. Era um plano de saúde para a economia, de retirar o País da cracolândia monetária, onde se encontrava, dentro da qual a vida econômica inteligente era impossível. Isso foi feito com sucesso. Agora, a tarefa de fazer o Brasil ser um país de alto crescimento é diferente. Envolve reformas, por exemplo, onde a gente está vendo aí a encrenca que é para fazer cada coisa. Fracassamos em matéria de política de crescimento por causa de ideias velhas e obsoletas sobre mercado interno, substituição de importação, protecionismo. E as reformas têm a ver com isso, mas espero que nos próximos 30 anos (as reformas) fiquem mais fáceis.
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