Após 3 décadas da fim da hiperinflação, Brasil tem de superar novos desafios/‘Nosso desafio (hoje) é orçamentário, da responsabilidade fiscal’
Economistas que forjaram o Plano Real contam bastidores da operação e indicam o que o País tem de fazer agora para superar o baixo crescimento e a desigualdade
Por Luiz Guilherme Gerbelli, O Estado de S. Paulo, 30/06/2024
‘Nosso desafio (hoje) é orçamentário, da responsabilidade fiscal’
Rubens Ricupero Ex-ministro da Fazenda do governo de Itamar Franco
Ao lado de Itamar Franco, Rubens Ricupero tem uma das imagens mais emblemáticas do Plano Real. Em 1.º de julho de 1994, o então presidente e seu ministro da Fazenda, respectivamente esticaram as novas notas para os fotógrafos. Era o início da circulação da nova moeda. Ricupero assumiu o comando do Ministério da Fazenda com a saída de Fernando Henrique Cardoso, que deixou o cargo para participar da eleição presidencial de 1994. Coube a Ricupero, então, comandar a transição da URV (Unidade Real de Valor) para o real.
A passagem de Ricupero pela Fazenda foi curta. Caiu por causa de um áudio vazado numa entrevista para a TV Globo – no que ficou conhecido como “escândalo da parabólica”. O ex-ministro diz que hoje o País só vai conseguir escapar do “voo de galinha” se tiver responsabilidade fiscal.
Como foi o convite para o sr. ser ministro?
Quando estava se aproximando a eleição, o Fernando Henrique tinha de tomar uma decisão, de sair do governo seis meses antes. Aí o Itamar me chamou e me convidou. No início, eu disse a ele: “Por que o senhor não convida o Edmar Bacha, o Pedro Malan? Eu mal sei o que é essa URV. A única coisa que eu sei é o que saiu nos jornais”.
A saída do sr. do ministério foi bastante traumática. Poderia relembrar?
Eu acabei caindo por culpa minha naquele episódio da parabólica. Me subiu à cabeça. Naquele dia fatídico, 1.º de setembro de 1994, eu estava preocupado, porque a moeda tinha entrado em vigor há dois meses, e a inflação tinha caído, mas não tanto como se esperava. Eu estava no meu gabinete com a luz apagada. Tinha só uma luzinha vermelha na câmera. Eu não sabia que estava captando.
O Brasil precisaria de um novo Plano Real para as contas públicas?
Nesse caso, eu não sei se seria um Plano Real. Eu acho que se o Brasil não aprender isso, se o Legislativo e o Judiciário com o Executivo não tiverem a noção de que você não pode indefinidamente aumentar a dívida pública, nós nunca vamos sair desse voo de galinha que nós estamos. O primeiro desafio é o desafio orçamentário, da responsabilidade fiscal. O segundo desafio é escapar da chamada armadilha dos países de renda média. O Brasil está preso nessa armadilha. Só sai se crescer 30 anos numa velocidade de cruzeiro, mas não vai crescer se voltar a política Dilma Rousseff. Ele vai crescer com responsabilidade e é, claro, que também com consciência social e atento aos que precisam mais.
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