Coreia do Sul, uma economia sob o domínio das ‘chaebol’
Controle familiar dos maiores grupos empresariais é marca da ascensão econômica do país e alvo de críticas
O Estado de S. Paulo, 27/12/2023
Durante décadas, a economia da Coreia do Sul tem sido dominada por um punhado de conglomerados familiares que detêm riqueza e influência extraordinárias e estão presentes em quase todos os aspectos da vida no país. Por conta do seu peso político, as “chaebol”, como essas famílias são conhecidas, há muito tempo são um assunto de grande interesse público. Os casamentos, as mortes, as separações e os problemas legais dessas famílias são relatados com frequência na imprensa sul-coreana.
Famílias chaebol fictícias foram retratadas em dramas coreanos (os doramas). A família Lee, da Samsung, os Koos, da LG, os Cheys, da SK, os Shins, da Lotte, e os Chungs, da Hyundai, são nomes conhecidos que controlam empresas que estão entre os maiores empregadores do setor privado do país. E seu poder tem sido cada vez mais analisado – dentro e fora da Coreia do Sul – como uma vulnerabilidade econômica, que aprofunda as desigualdades e promove a corrupção no país.
O sistema chaebol é um legado da história da Coreia do Sul. Depois que um armistício encerrou a Guerra da Coreia, em 1953, os ditadores militares do país ungiram algumas famílias para obter empréstimos especiais e apoio financeiro para reconstruir a economia. As empresas se expandiram rapidamente e passaram de um setor para outro, até se transformarem em grandes conglomerados.
Mesmo quando essas companhias cresceram em tamanho, riqueza e influência, e venderam ações nas bolsas de valores, elas permaneceram sob o controle familiar – geralmente dirigidas por um presidente que também era o chefe da família. E as mudanças geracionais de liderança às vezes perturbam as famílias chaebol, forçando as empresas a se dividirem ou a se separarem em grupos menores.
Há mais de duas décadas, durante uma luta familiar, a Hyundai foi dividida entre os seis filhos do fundador. O filho mais velho assumiu o controle da Hyundai Motor, hoje uma das maiores empresas da Coreia do Sul. Sob o comando de Chung Eui-sun, neto do fundador, a família ainda está à frente da montadora global.
POLÍTICA. A rápida ascensão da Coreia do Sul da pobreza do pós-guerra para uma importante economia desenvolvida em poucas décadas esteve intimamente ligada à ascensão das empresas chaebol. O sucesso inicial dessas empresas fez aumentar os salários e os padrões de vida no país, além de impulsionar as exportações do país.
As vendas totais dos cinco maiores conglomerados representaram consistentemente mais da metade do PIB (Produto Interno Bruto) da Coreia do Sul nos últimos 15 anos, chegando a 70% em 2012, de acordo com o livro “Republic of Chaebol”, do economista Park Sang-in. Seus negócios também permeiam a vida sul-coreana – de hospitais a seguros de vida, de complexos de apartamentos a cartões de crédito e varejo, de alimentos a entretenimento e mídia, sem mencionar os eletrônicos.
Embora os laços estreitos entre o governo e as empresas tenham diminuído, os líderes políticos ainda recorrem frequentemente a elas em busca de apoio ou aconselhamento. Por sua vez, as empresas têm sido protegidas como sendo vitais demais para a economia para serem desmembradas ou investigadas – algo que os críticos têm atacado como um problema do tipo “grande demais para ser preso”.
Neste verão, os líderes das chaebol foram com o presidente sul-coreano, Yoon Suk Yeol, em uma viagem à Europa como parte da candidatura da Coreia do Sul para sediar a Expo Mundial. Eles também o acompanharam em sua visita aos Estados Unidos para se reunir com o presidente Biden e estavam entre os convidados em um jantar de Estado na Casa Branca.
ARTIGO987