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Dívida dos clubes cresce na pandemia

Mesmo com grandes transações com imóveis e atletas, receita dos times caiu 10% no ano passado

Por Marina Falcão — Do Recife,  02/07/2021 – Valor Econômico

Com os portões dos estádios fechados na maior parte do ano passado por conta da pandemia de covid-19, os clubes brasileiros de futebol registraram uma queda de 10% nas suas receitas, que somaram R$ 5,5 bilhões, e um aumento de 15,6% no total dos passivos, para R$ 14,1 bilhões. O resultado seria pior ao excluir ganhos excepcionais com venda de imóveis e de atletas.

Os dados foram compilados pela Ondina Investimentos, boutique de fusões e aquisições no Recife, com base em divulgações das demonstrações financeiras publicadas por 32 clubes brasileiros das séries A e B do Campeonato Brasileiro.

Arthur Machado, fundador da Ondina e responsável pelo levantamento, diz que o resultado reflete o recuo do apurado com a venda de ingressos e produtos das marcas dos clubes. A performance ruim dessas duas fontes foi amortecida pela receita com a venda de direitos de transmissão, que não sofreu oscilação significativa, e representa mais da metade do faturamento dos clubes. “Os contratos são de longo prazo e muitas vezes essa receita é antecipada pelas emissoras”, afirma Machado.

Pelo menos 13% do que foi registrado como receita pelos clubes, ou R$ 707 milhões, vieram de fontes extraordinárias. Não por acaso, entre os 15 maiores clubes, o Atlético Mineiro e Corinthians foram os únicos a crescer no ano passado. Ambos obtiveram significativos impactos de transações não recorrentes no seus resultados. No caso do Atlético Mineiro, foi contabilizado um ganho de R$ 472 milhões com a venda de participação societária no Diamond Mall, reavaliação da fatia remanescente e avaliação a valor justo da Arena Vencer. Com isso, a receita do clube mineiro cresceu 80%, para R$ 615 milhões, sobre 2019.

O Corinthians, por sua vez, teve uma receita adicional de R$ 144 milhões com a venda de atletas, principal motivo para o clube ter crescido 15% durante a pandemia. Embora seja parte do negócio do clubes, a receita com a venda de jogadores pode ser considerada não-recorrente na essência, pela distorção gerada por transações de grande porte de “estrelas” do futebol, diz Machado.

Curiosamente, Atlético Mineiro e Corinthians foram os que registraram maior efeito negativo no endividamento. O Atlético Mineiro teve um aumento de 57% no seu passivo, que alcançou R$ 1,3 bilhão, enquanto o Corinthians registrou alta de 31%, também atingindo R$ 1,3 bilhão. Os dois clubes são agora os mais endividados em temos absolutos, desbancando o Internacional que manteve praticamente estável o seu passivo, em R$ 1 bilhão

Apesar de relevante, a piora das finanças dos clubes teve efeito residual no ranking dos clubes brasileiros mais atrativos para os investidores, elaborado pela Ondina e divulgado pela primeira vez no ano passado. Isso porque o ranking criado pela consultoria considera não apenas as finanças, mas também a localização geográfica, a quantidade de títulos e o tamanho da torcida.

O Flamengo, embora tenha registrado uma expressiva queda na receita no ano passado, continua sendo o time mais atrativo no ranking geral, com valor de mercado próximo a R$ 1,5 bilhão. A avaliação leva em conta múltiplos de receita e Ebitda de times da Europa listados em bolsa.

Na categoria dos clubes com receita entre R$ 300 milhões e R$ 500 milhões, o destaque também continuou sendo o Grêmio, que foi avaliado pela Ondina entre R$ 881 milhões e R$ 1,1 bilhão.

No grupo com faturamento entre R$ 100 milhões e R$ 300 milhões, a situação financeira foi crucial. Por apresentar um balanço mais redondo, o Atlético Paranaense acabou tirando do Vasco o destaque na categoria, em que pese o time carioca pontuar melhor nos quesitos torcida e localização geográfica. O clube do Paraná foi avaliado em entre R$ 670 milhões e R$ 970 milhões.

Entre os menores, com receita até R$ 100 milhões, o Ceará foi, pela segunda vez, elencado como o mais atrativo para investidores, com valor de mercado estimado em até R$ 195 milhões.

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