João Santana diz que vitória nestas eleições não são farol para 22
Para ex-marqueteiro, Bolsonaro não se reelege em 2022
Valor Econômico – Por Fernando Exman — De Salvador – 04/12/2020
João Santana sentiu-se à vontade para mudar o rumo da prosa e o fez em tom de desabafo, o primeiro de um longo almoço iniciado pontualmente às 13h30: “Você me permita falar agora por que estou engasgado”, disse o ex-marqueteiro que esteve no centro do poder durante os governos do PT e, depois de abatido pela Operação Lava-Jato, agora dá impressão de que aguarda o momento certo de retornar ao jogo.
Ele diz se sentir um jogador de futebol contundido, que é obrigado a assistir ao time jogar da arquibancada ou do banco. Começava ali uma análise sobre o eleitor, a conjuntura política e os desafios da oposição para 2022 – uma conversa entrecortada por reflexões a respeito de sua trajetória e do reencontro com a canção, que nas suas palavras é o “artefato humano que rompe a relação tempo-espaço e subverte a relação sujeito-objeto”.
O engasgo, portanto, não se tratava de algum incidente inesperado relacionado à degustação dos pratos que ele mesmo escolhera de forma meticulosa, harmonizando-os com o vinho, no restaurante Paraíso Tropical, em Salvador. O chefe Beto Pimentel, 87 anos, antigo conhecido, não sabia que o encontro ocorreria em seu estabelecimento.
Assim que viu Santana entrar no arejado terraço, foi ao seu encontro e fez questão de dizer que era a primeira vez, em oito meses, que deixava o distanciamento social para prestigiar um cliente. Nada contra os demais presentes, que também receberam sua atenção e a de seu filho Pedro, que trabalha na cozinha e é apresentado como seu substituto.
“Tem uma falácia, que vem de alguns setores bolsonaristas, de que o Brasil é um país conservador. Poucas pessoas tiveram acesso nos últimos 15 ou 20 anos abatidos os quatro anos atrás – a pesquisas como eu, tanto as que contratei quanto as que recebia de graça. De vários tipos. Nunca notei esse conservadorismo. O Brasil, sim, é um país atrasado. O Brasil não é um país conservador nem nos costumes”, retomou o raciocínio.
Segundo ele, a sociedade brasileira “foi e é construída em cima de mulheres com muitos maridos”, ao ritmo do samba e do funk, marcada pela exposição sexual.Aos seus olhos, quem soube lidar com essas contradições do povo brasileiro – e recebeu sua ajuda para tanto – foi o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “Somos pacifistas e violentos, somos puritanos e libertinos, somos ateus e crédulos. Essa coisa é o Brasil. Não venha me dizer que o ser humano é assim, não. Estudei sociedades próximas completamente diferentes.” Foi essa ambiguidade, segundo ele quase uma bipolaridade, que permitiu ao país sair de uma sequência de administrações Lula-Dilma para um período governado pelo presidente Jair Bolsonaro, o candidato que soube encarnar o antipetismo. Por outro lado, alerta, a mesma característica pode abrir caminho para Ciro Gomes (PDT) ou Guilherme Boulos (Psol), por exemplo Santana tem uma convicção em relação à eleição de 2022, embora demonstre preocupação em alguns momentos: o presidente fracassará na tentativa de se reeleger e isso se dará porque “o ser eleitoral Bolsonaro” da próxima disputa será completamente diferente do que se viu em 2018, assim como o ambiente. Garfada para dentro, saboreia não apenas o dandá de camarão como a linha argumentativa que visa desconstruir a suposição de que Bolsonaro foi um fenômeno eleitoral capaz de subverter a lógica em 2018, por não ter tempo nem dinheiro para fazer campanha. Cita que Bolsonaro passou anos agregando, mandato após mandato de deputado, até que, a partir de 2010, colocou-se como “uma face grotesca em busca de um tempo grotesco”. “Em 2015 e 2016, Bolsonaro começou a se colocar como pré-candidato. Foi o que teve a campanha mais longa e sem amarra partidária. O primeiro candidato independente da história recente do país, que não tinha partido, não tinha disputa interna e com o ambiente focalizado na Lava-Jato. A imprensa nem percebia o que ele estava fazendo lá”, pontua. “Chegou ao início da campanha com 19% [das intenções de voto], já com quase 20%. Não é fenômeno. Estava costurando, num ambiente corroído, tudo desagregando, um antipetismo que ele conseguiu incorporar, o manejo o inteligente de redes sociais.” Veio então a facada, que garantiu a Bolsonaro mídia espontânea e gratuita, além da justificativa para não participar dos debates, observa. “É o primeiro candidato da eleição moderna do Brasil ou, talvez, de todos os tempos, que sofre um atentado cruel e absurdo. Que eu me lembre no Brasil não aconteceu em nenhuma campanha. Na história ocidental de grandes países, aconteceu com o [presidente americano] Theodore Roosevelt na primeira eleição, ele recebeu a bala.” Santana aponta ainda o que considera um “erro tático terrível”, a campanha em repúdio ao então candidato Bolsonaro #Ele não, por ter estabelecido como eixo uma negação. “Com todo respeito às mulheres.” Para o estrategista, vencedor de campanhas eleitorais dentro e fora do Brasil, a lua de mel de Bolsonaro após a posse foi marcada pela frigidez, e sua popularidade foi mantida artificialmente pelo “coronavoucher”. Em sua visão, o presidente não conseguirá imitar Lula, que teve a capacidade de deixar de ser um “herói moral para assumir o papel de herói social”, provoca.Santana diz que não é procurado por antigos companheiros. Tampouco os procura. Nem poderia. Ele e a mulher, Mônica Moura, foram absolvidos da denúncia de corrupção no âmbito do petrolão, mas condenados por lavagem de dinheiro. Acabaram fechando acordo de colaboração com a Justiça, mas ele está proibido de falar com outros investigados até setembro do ano que vem. Até recentemente também estava impossibilitado de retomar o trabalho no marketing político. Santana é submetido a monitoramento eletrônico, além de restrições aos fins de semana, quando precisa ficar dentro de casa. Mas isso não parece ser um grande transtorno. Ele vive a cerca de 40 km da capital baiana, em um condomínio em Arembepe, na mesma região que frequentava quando jovem.
“Na época da aldeia hippie de Arembepe, eu tinha 16 ou 17 anos e ia muito para lá. Era completamente doido. Hoje moro no espaço mais requintado e milionário, onde nunca imaginei que fosse morar. Eu dormia na areia duas ou três noites, doidão. Hoje, não. Sou careta, e não por uma questão moral”, diz. “Aquele nascer do sol que vejo hoje na minha casa é a mesma alvorada que via no outro período. Não só a entrevista, e de onde pouco sai, mesmo estando em regime aberto. Tem dois filhos biológicos – “ou bacteriológicos” – e três agregados de outros casamentos, além de nove netos. “Não faço distinção de afeto com nenhum.”
Santana alterou sua rotina, longa e individual, para este “À Mesa com o Valor”.
Costuma acordar por volta de 4h30 e já faz uma sessão de leitura e escrita rápida. Depois de uma hora, prepara o café da manhã para a família, sua obrigação doméstica, e antes do dejejum pratica exercícios físicos por uma hora e meia. Depois, passa cerca de seis horas lendo – sua biblioteca, “maravilhosa tanto do ponto de vista quantitativo quanto qualitativo”, tem cerca de 8 mil volumes – escreve por três ou quatro horas e passa entre duas e três horas ouvindo música. Todos os dias. Sua relação com a música, aliás, foi um dos temas que o atraíram para o encontro.
Mas, antes de explorar o assunto, é melhor fazer o pedido. A opção de Santana pelo restaurante Paraíso Tropical teve uma razão sentimental, pois sua mãe adorava frequentá-lo, e uma segunda justificativa de ordem mais técnica. Para ele, o chefe Beto Pimentel é o único capaz de ostentar o título de ter dado um passo além e adiante da cozinha tradicional baiana.
“Ele é um inventor, um criador. É pós-secularização da comida baiana, que é uma comida sacrificial de candomblé. Consegue fazer isso sem romper os preceitos e, ao mesmo tempo, trabalhando com o mesmo tipo de matéria-prima, só que em estágios anteriores ao que se usa normalmente”, teoriza. “Em vez de pegar já o azeite, pega o coco. Em vez pegar o leite de coco, pega a raspa do coco verde. Não é nada ligado ao candomblé. Mas a raspa do coco verde é a comida predileta de Oxalá, que não pode comer dendê. É o único orixá que não come dendê, nem sal nem pimenta, porque é da pureza. Come essa raspa de coco.”
Decidido que Santana conduziria a experiência gastronômica, primeiro ele escolheu a moqueca de calapolvo (camarão, lagosta e polvo cozidos com maturi, palmito decoqueiro fresco, lâmina de coco verde, pitanga, biribiri, amora, pimenta biquinho, folha e flor de vinagreira, temperos especiais aromáticos, fruto do dendê e azeite de oliva extra virgem), arroz de Nabucet ê (arroz com mariscos, coco verde, manga e brócolis) e dandá de camarão (cozido e envolvido no creme de aipim batido com maturi, palmito e temperos especiais).
Seu entusiasmo com os pratos não se estendeu em relação à carta de vinhos. Sobre o acompanhamento de moqueca para a bebida, tem uma discussão gastronômica. “Até agora, o ganho é que o vinho para acompanhar a moqueca é o tinto, mesmo que seja moqueca de peixe, por causa do dendê. Só que tem outra corrente que defende o vinho branco. Então, escolha. Não tem muito vinho”, comenta. “Das uvas tintas, a boa para moqueca é Pinot, a que mais equilibra. Mas Pinot, para ser bom, sempre é um vinho caro. Esse Pinot barato…” Ao fim do almoço, aliás, Pimentel jurou que a carta estava passando por uma reformulação.
Brinde feito. A conversa passa para um assunto mais ameno, embora tratado com seriedade por João Santana desde a infância. Nascido na cidade de Tucano – “uma piada pronta”, brinca -, começou a tocar saxofone aos 9 anos de idade e poucos anos depois já formava suas primeiras bandas. Hoje, aos 67, voltou a compor com antigos parceiros e recentemente lançou o álbum com um deles, Jorge Alfredo, e já tem futuros projetos nessa seara engatilhados.
“Suave Distopia” (encurtador.com.br/fqrCE) é resultado de “um mergulho violento” depois do que passou quando foi preso, uma encomenda ao seu espírito, não ao mercado, ao meio político ou à própria biografia. Santana garante que as letras não decorrem de algo racional, apesar de a canção que dá nome ao trabalho provocar sérias dúvidas em quem a escuta.
Na letra, uma moça sempre dizia ao interlocutor: “Ei, sossegue! Isso nunca vai acontecer aqui”; porém, em um dia, o que ela desprezava se materializou e o outro personagem também se vê devorado por um pesadelo que “pode ser nosso fim”.
“Um amigo meu, que é um grande artista e não vou dizer o nome, para me sacanear, até perguntou: ‘Essa música você fez para a Dilma?’”, conta, maroto. “Olha que sacanagem! Nunca tinha me ocorrido isso – nem consciente nem
inconscientemente. Depois que ele falou isso, um grande criador, eu disse: ‘Será que não era isso inconscientemente’? Mas, acho que não é.”
A canção puxa outro assunto. Quais teriam sido, então, os momentos em que percebeu que o jogo tinha virado? Santana recupera na memória e reconhece que sabia estar em um momento de desequilíbrio institucional. “A gente vivia em um ambiente tão permissivo no Brasil… Não sei se não é o que vive até hoje… Um ambiente tão permissivo e que tornava tudo tão igual, é o que chamei de ruim na moral. Você se torna cúmplice e vítima disso.”
Conta que percebeu algo estranho quando um homem apareceu no prédio de um de seus netos, querendo saber o que se passava no apartamento e quem vivia ali. O imóvel, ainda em seu nome, era um presente de avô. Concluiu que estava sendo investigado ou sua família poderia ser alvo de um sequestro. “A percepção do que poderia estar acontecendo, de que eu podia estar sendo investigado, não foi por nenhum alerta dos poderes organizados”, afirma.
Em sua visão, tornou-se alvo da Lava-Jato, mesmo fazendo “o que todo mundo fazia”, porque estava num círculo politico, institucional e partidário que o transformava num símbolo. “Não houve até hoje um marqueteiro que não tenha recebido da forma como recebi.” Diz, entretanto, não saber se as práticas do mercado continuam as mesmas. “Se dissesse sim, estaria sendo leviano. Se dissesse não, igualmente. Acho que é tão entranhado, 100% livre é difícil estar”, pondera.
Quando questionado sobre se o financiamento público fora criado para servir de cortina e encobrir eventuais irregularidades, Santana recorre, pela primeira vez, ao subterfúgio que mais tarde lhe seria novamente útil. “Ou talvez para tentar melhorar. Sirva-se porque o cara quer provocar a suas glândulas salivares”, aponta para a mesa, mudando rapidamente de assunto. “Veja que equilíbrio. Não que a moqueca tradicional seja ruim… Olha que lagosta saborosa. Lagosta normalmente fica sem gosto, mas veja a dele como está.”
Pouco depois, o assunto retorna à trilha anterior sem grandes dificuldades, e o repórter pede um exemplo de quando o então todo-poderoso marqueteiro de Lula e Dilma percebeu que o governo perdia o controle da situação. “Para você ver a baixa percepção que nós todos estávamos. Naquelas jornadas de 2013, em junho, no terceiro dia, tudo estava começando a explodir em Brasília. Eu saio tipo 7h da noite e pego o carro do meu escritório ou do hotel e vou para o Palácio da Alvorada supernervoso. Entro na sala íntima da presidente. Na área particular estava ela Aloizio Mercadante, televisão desligada, tratando de algum assunto administrativo.
Eu pergunto: ‘Presidente, vocês viram o que está acontecendo?’ E Mercadante, com quem tenho carinho, disse que não”, narra em tom dramático.
Depois de muita insistência, a televisão é ligada na GloboNews e a cena à qual todos assistem, incrédulos, já era quase a histórica invasão dos manifestantes à cúpula do Congresso. “Está tudo de cabeça para baixo, gente”, relembra o que disse, por fim.
Em nenhum momento Santana relativiza a própria responsabilidade pelos eventuais erros cometidos nessa ou em outras passagens das gestões petistas. Sobre as jornadas de 2013, por exemplo, diz que também foi surpreendido. Se houvesse um acompanhamento detalhado das redes sociais, lamenta, a conflagração até poderia ter sido percebida com antecedência. “O fato político é muito dinâmico, especialmente do ponto de vista de massa, que pode surpreender qualquer um e pegar de calção curto.”
Na sua opinião, o antipetismo tem germes anteriores à Lava-Jato, e a primeira causa é a fadiga de material, para ele, algo normal em razão do longo período que o partido governou o país. “Eu brincava, e a Dilma ficava p. comigo quando eu dizia: ‘15 anos é tempo para c.. Napoleão ficou menos tempo que isso, 14 anos, e mexeu com o mundo. Alexandre, o Grande, levou 12 ou 13 anos e incorporou a Ásia ao império. Vocês estão aqui sentados e pensando que falta tempo”, conta, com um sorriso estampado no rosto.
Na sequência, prossegue, desta vez sem procurar abrigo, foi armada uma “coisa engenhosa” das oposições nacionais e internacionais contra o PT. “Aí entra a LavaJato nisso como subproduto ou não”, afirma. “No Brasil, coisa similar aconteceu com
Jango e aconteceu com Getúlio na crise.”
No caso do PT, no entanto, a tecnologia da informação teria potencializado essa campanha. “O PT não soube reagir. Quando digo o PT, não estou me tirando dessa história. Estou dentro e não soube reagir a isso, perceber o que estava acontecendo.”
Foi nesse ambiente que o então candidato Jair Bolsonaro construiu as condiçõesNós usamos cookies e outras tecnologias semelhantes para melhorar a sua experiência em nossos para vencer em 2018, o que não deve se repetir no próximo pleito, insiste. Santana reitera a tese que apresentou durante o programa “Roda Viva”, da TV Cultura, no fim de outubro.
Segundo ele, Ciro Gomes (PDT) é o melhor candidato e seria o melhor presidente eleito em 2022, pois tem facilidade para compor com a esquerda e com a direita. “Mas não está enxergando algumas coisas. Não está enxergando o eleitor. Está fazendo a melhor pré-campanha ou campanha que já fez até agora, mas, ao mesmo tempo, está começando a entrar em equívocos de postura. Está repetindo. O Ciro tem que saber uma coisa, e quem sou eu para estar ensinando ao Ciro? Estou falando como humilde espectador, mas não tão humilde porque conheço um pouco da relação com o eleitor”, observa.
Para o ex-marqueteiro, o eleitor quer o melhor candidato, mas não o primeiro da classe. “O Ciro quer ser o primeiro da classe. Ele tem o melhor discurso, a melhor proposta e a melhor crítica, mas está começando a ficar ‘over’”, emenda. Segundo ele, Ciro já foi “over” do ponto de vista moral, ao cometer erros escatológicos, e agora corre o risco de fazer o mesmo quando fala de economia e outros assuntos. “Tenho medo do que possa acontecer.” Novamente a pergunta é compulsória. Faz-se necessário saber se o comensal fará a campanha de Ciro Gomes. Santana nega e diz que não sabe o que fará da vida.
A próxima questão é se já sabia que Ciro e Lula haviam se encontrado, quando sugeriu, durante o mesmo programa de televisão, que o petista seria o vice ideal de uma eventual chapa liderada pelo ex-governador do Ceará e ex-ministro. “Sinceramente, não. Se soubesse, não teria falado. Eu me surpreendi depois, me arrependi de ter dito. Pode colocar todas as aspas do mundo dentro disso. Gostei até da sequência que veio agora. Não sabia, não sabia”, frisa. “Eu pensava que estava sendo profeta. Estava sendo repórter furado”, completa ele, que foi um dos jornalistas responsáveis pela publicação da reportagem que aprofundou as investigações e a crise do governo Collor. “Acho que essa seria de fato uma chapa importante. Mas eu a acho impossível porque os dois não têm a grandeza. Não têm a grandeza do velho [Luís Carlos] Prestes de apertar a mão de Getúlio [Vargas]. Esses dois têm o ego fabulosamente inflado e equivocado. Não estão vendo o perigo”, sustenta. “Essa desinflada aparente que aconteceu com o Bolsonaro pós-eleições municipais é só aparente. Não é assim.”
O garçom serve um prato repleto de frutas, todas produzidas pelo próprio chefe, agrônomo de formação. Estamos na sobremesa, mas ainda há que se esclarecer por que Santana não vê correlação entre as eleições municipais e a presidencial.
“É no mínimo apressado dizer que o resultado das eleições municipais mostra que o Brasil saiu da polarização. Isso é besteira. A eleição municipal é solipsista, conversa com si e sempre foi assim. Tem um diálogo íntimo, profundo e exclusivo consigo. Não serve de medida para fora dela”, sublinha. “Não pensem os que estão gratificados pela tragédia aparente de Bolsonaro que resolveu o problema. Não resolveu. Ela não presta como régua para nada, porque pode permitir qualquer análise.”
Se analisar com frieza, diz, o Centrão “pode dizer que fez centenas de prefeituras, o pessoal do DEM, mas isso não significa nada. Na hora que a eleição presidencial de 22 acontecer, não vai ser isso que vai determinar”.
Santana aproveita para um segundo desabafo. E faz questão de dizer que não o faz por interesse próprio, pois sabe o quanto se pode ganhar e perder dinheiro nesse mercado. Para ele, há que se preservar a estrutura da propaganda eleitoral. “O horário eleitoral é uma coisa sensacional que o Brasil tem, é um privilégio. Pode funcionar como eixo estruturador contra o canibalismo antidemocrático das redes sociais.”
Lembra que, depois da Lava-Jato, já se tentou reduzi-lo. “Queriam justificar para os deuses do Olimpo judicial alguma coisa porque todo mundo tinha culpa no cartório, era culpado, era pecador. Hoje pode ser bem melhor. Por baixo do pecado, se estruturavam alguns ritos importantes para a democracia. Não estou defendendo o horário para fazer dinheiro. É uma questão para a democracia brasileira, para a saúde do sistema democrático”, conclui.
O encontro já durava mais de duas horas e João Santana queria redirecionar a conversa novamente para algo mais ameno. “Chega, já falei muito. Está uma delícia essa pitanga.”
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