Jovens dedicados aos ídolos dominam as redes sociais
Thaís Ferraz, O Estado de S.Paulo – 23 de agosto de 2020
Fãs de k-pop criam hashtags que alcançam os trending topics facilmente e se tornam poderosa arma eleitoral
Apesar da diversidade, os fãs de k-pop têm algo em comum: o fervor por seus ídolos. De todas as partes do mundo, eles se juntam para organizar votações, pedir músicas em rádios e colocar as bandas nas diferentes paradas musicais. Suk-Young Kim, professora de Estudos Críticos e diretora do Centro de Estudos de Performance da Universidade da Califórnia, Los Angeles (UCLA) e autora do livro K-pop Live: Fans, Idols, and Multimedia Performance, explica que a relação dos fãs com a internet é peculiar.
“A indústria do k-pop é desenhada de um jeito que os ídolos não conseguem ter sucesso, nem crescer, sem a participação dos fãs”, diz. “Suas carreiras dependem disso, principalmente da participação nas mídias sociais.”
Quando os grupos lançam novos álbuns ou clipes, fãs se mobilizam para gerar conteúdo e impulsionar os números do streaming. “É quase como uma organização política ou religiosa para apoiar seus ídolos”, conta Kim. “É uma cultura muito participativa, e eles sabem que têm poder.”
Ainsley, uma jovem americana de 14 anos, conta que foi esta “máquina” que entrou em funcionamento. “Os fãs de k-pop provaram ser capazes de criar hashtags que alcançam os trending topics facilmente, e criar ‘festas de votação’ em massa para ajudar nossos ídolos a ganhar prêmios”, diz. “Então, se pararmos de nos concentrar nisso por um tempo e começarmos a votar em massa nas petições e espalhar a hashtag #BLM (#BlackLivesMatter), podemos ajudar a alimentar movimentos positivos.”
A adolescente conta que os fãs coordenaram ações e “ataques” nas últimas semanas. “A informação é espalhada no Twitter e, em seguida, se espalha para o aplicativo de vídeo TikTok. Quando chega ao TikTok, a maioria dos fãs do k-pop já está ciente. Mas ainda mais pessoas que não fazem parte de fãs-clubes do k-pop passam a participar.”
Com quase 5 mil seguidores no Instagram, Ainsley também participa de outras formas de mobilização, como a divulgação de petições e arrecadação de dinheiro.
Os ídolos, por outro lado, costumam ser reticentes em relação à política – embora também façam doações para causas sociais. “Eles são treinados para não se envolver”, afirma Suk-Young. “Da perspectiva das empresas que gerenciam suas carreiras, o objetivo é fazê-los populares para o público geral, e polarizar seus fãs em torno de questões políticas não serve a este propósito.”
Eleições
Não há ainda um movimento organizado ou partidário formado por fãs de k-pop – embora a reportagem tenha encontrado uma iniciativa recém-criada que busca reunir fãs para ações anti-Trump, além de algumas postagens incentivando que eles se registrem para votar nas eleições de novembro.
Ari, 16, uma jovem que reservou ingressos para alguns comícios de Trump e ajudou a sabotar o aplicativo da polícia de Dallas, conta se identificar com o Partido Democrata, ainda que mais à esquerda, mas ainda não pode votar. “Como alguém que mora nos EUA e vê toda a injustiça nesse país, eu me empolguei quando percebi que tinha poder para fazer algo, já que não posso ir às urnas”, diz. “(Participar dessas ações) me fez sentir que eu podia mudar algo”.
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