Motoboys param nas principais cidades do País.
Por melhores condições de trabalho, entregadores ocuparam ruas e avenidas; empresas dizem que entregas continuaram ao longo do dia
O Estado de S. Paulo – 2 Jul 2020
Renato Jakitas / COLABORARAM LEONARDO AUGUSTO, ESPECIAL PARA O ESTADO, E DENISE LUNA
O boicote nacional dos entregadores e motoboys de aplicativos, realizado ontem, foi marcado por protestos nas principais cidades, mas, segundo relatos do iFood, Rappi, Loggi e Uber Eats, o movimento teve pouco impacto prático na operação das plataformas de serviços.
A categoria, que teve forte crescimento ao longo da pandemia do novo coronavírus, convocou uma greve por grupos de WhatsApp, movimento organizado por lideranças difusas, em um primeiro momento sem a participação dos sindicatos, que posteriormente aderiram ao boicote. Ao longo do dia, houve protestos na Grande São Paulo, região de Campinas e de Piracicaba, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Distrito Federal e em capitais do Nordeste, Norte e CentroOeste.
Os trabalhadores pedem melhores condições de trabalho com uma pauta que englobou desde a definição de uma taxa fixa mínima de entrega por quilômetro rodado até o aumento dos valores repassados aos entregadores por serviços realizados. A categoria também cobrou das empresas uma ajuda de custo para a aquisição de equipamentos de proteção contra a covid-19, como máscaras e luvas. As empresas afirmam que estão fornecendo os equipamentos.
Apesar da mobilização nas ruas, as empresas de aplicativos não relataram interrupção na recepção dos pedidos. Segundo o iFodd, que tem 145 mil entregadores cadastrados em seu sistema, o serviço de entregas se manteve ao longo do dia. “Ainda não é possível avaliar o impacto das manifestações. Naturalmente, num dia de protestos, são esperadas flutuações, mas as entregas continuaram a ser feitas”, disse a empresa, em nota.
O tom é o mesmo adotado pelas plataformas Uber Eats e Rappi. Procurada, a Loggi não respondeu à reportagem. Reservadamente, as empresas dizem que era preciso esperar o fim do dia para avaliarem os impactos.
Abrangência. Na Capital, os protestos começaram por volta das 9 horas em pelo menos 16 pontos da cidade. Os motoboys dificultaram o acesso dos shoppings Morumbi, Center 3 Paulista, Center Norte, Tatuapé e Tietê. Também houve manifestações em frente aos galpões da Loggi em Guarulhos, Vila Olímpia e no bairro Jardim Peri Peri. Por volta do meio-dia, cerca de três mil motoboys saíram do sindicato da categoria, o Sindimoto, na zona sul da cidade, em marcha pela Marginal Pinheiros até o Tribunal Regional do Trabalho (TRT), na Avenida da Consolação, onde realizaram um buzinaço. No fim da tarde, um grupo com cerca de cinco mil motoboys interditaram a Ponte Estaiada, no bairro do Brooklin.
“O importante é que a categoria conseguiu conscientizar a população sobre a precariedade dos serviços de entregas. Falta segurança. É um trabalho muito precário”, disse o presidente da
União Geral dos Trabalhadores (UGT), Ricardo Patah.
Na noite de terça-feira, muitas postagens em apoio às reivindicações dos motoboys foram vistas nas redes sociais.
Notificações. Na terça-feira, uma das empresas de entrega de comida via aplicativo, a iFood, colocou uma série de argumentações em sua caixa “Notificações”, com o título “Iniciativas para entregadores” e “Abrindo nossa cozinha para você”. A empresa afirma que, atualmente, “70% dos pedidos feitos via iFood são entregues pelo próprio restaurante”, e que “uma menor parcela das entregas é feita por entregadores parceiros da plataforma”.
O iFoof afirma ainda que “em maio, um entregador ganhou em média R$ 21,80 por hora trabalhada”, e que “nove em cada dez entregadores que utilizam o aplicativo valorizam ter flexibilidade de horário e liberdade para compor sua renda”.
Segundo a Associação Brasileira de Mobilidade e Tecnologia, que reúne as empresas de aplicativos, o diálogo está aberto para negociações e não haverá nenhum tipo de retaliação ao protesto realizado ontem. A entidade afirma que desde o começo da pandemia foram realizadas várias ações de apoio ao entregador, como distribuição gratuita ou reembolso de materiais de higiene e limpeza, como máscara, álcool em gel e desinfetante. A associação afirma que também foi criado um fundo para pagamento de auxílio financeiro para profissionais diagnosticados com covid-19.
O tom é o mesmo da Associação Brasileira Online to Offline, que também reúne empresas do tipo. “Independentemente do tamanho do impacto que a mobilização teve nas operações dos apps, sabemos que muitos entregadores não concordam com todas as pautas ou não podem sacrificar um dia de trabalho. O que realmente importa é a mensagem que eles quiseram passar”, afirma o presidente da associação, Victor Magnani.
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