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Não podemos perder a capacidade de agir

A colunista *Betania Tanure chama os líderes empresariais a saírem da inércia e do conformismo

Valor Econômico – 04/11/2021

Nos últimos dias, tenho ouvido recorrentemente de executivos e empresários algumas “pérolas” sobre a atual situação do Brasil: A economia está derretendo. Política fiscal, juros, inflação, este ano não vamos atingir o orçamento. O próximo ano vai ser pior, com as eleições, a terceira via, que quer decolar com tantos

candidatos… 2022 vai ser terrível para nossa empresa.

Comentários como esses denotam o conformismo, a indignação sem ação em resposta ao atual cenário político-econômico do país. Se analisamos o comportamento das pessoas diante da evolução e das perspectivas da  pandemia, a constatação é a mesma. Há uma indiferença geral. Parece que nos conformamos com a média de mortes diárias causadas pela covid-19, comportamento não partilhado pelas famílias que perderam entes queridos.

A saga institucional, que deveria ser motivo de ação coordenada para estabilizar o país, é razão de preocupações, mas também de uma proporção injustificável de reclamações – e de poucas ações.

Se o fluxo natural das coisas é de degradação do ambiente, o líder tem de agir para mudar. Se é de degradação dos resultados da empresa, tem de agir para mudar. Se é de dispersão nas incontáveis reuniões virtuais, tem de agir para mudar. Esse é o risco do empresário, do dirigente, do líder. O risco de mudar ou, maior ainda, de não mudar. Esse é o eu risco, leitor.

Mapeamos nas empresas a montanha-russa dos sentimentos das pessoas, inclusive em relação às decisões organizacionais de sair do home office. No momento mais grave da pandemia, as empresas que se comprometeram a não demitir e tiveram todo o cuidado com as pessoas e suas famílias foram “amadas loucamente”. As inúmeras pesquisas de pulso apontavam gratidão, reconhecimento, orgulho por estar em uma empresa considerada um porto seguro em meio a tanta incerteza.

Hoje, momento em que muitos estão “adaptados” ao home office -aliás, nossas

pesquisas revelam também uma adaptação perigosa, que pode virar acomodação com embalagem de boa qualidade de vida -, as empresas que têm estimulado a volta aos escritórios perderam todo o encanto.

A capacidade de o ser humano adaptar-se a mudanças é incrível, para o bem e para o mal. E no Brasil ela é maior ainda, pelo fato de a flexibilidade ser traço marcante da cultura nacional. Podemos estar em um movimento pendular no qual muitos se concentram fundamentalmente em si próprios. Vale ressaltar que é um bom e megadesafio articular a qualidade de vida com a tensão construtiva, que todos precisam buscar.

Enfim, vivemos hoje a acomodação, que se apresenta em níveis e esferas os mais diversos, a perigosa face sombria da nossa incrível capacidade de adaptação. Não podemos nos furtar a expurgar o lado sombra dessa característica cultural, dessa potencial acomodação, e preservar seu lado sol.

Identifique em qual fase você está, a sua empresa está, o Brasil está. É preciso sair da inércia e da adaptação amorfa, pois elas levam à perda da justa indignAÇÃO com o que não deveria acontecer. É preciso sair da acomodação de quem para na indignação, não age na esfera das necessidades e preocupações relacionadas ao rumo do país, ao resultado da empresa e a si mesmo: estão em jogo a sua vida pessoal e a sua vida profissional, com o desafio da construção do novo modelo de trabalho. E é a elite, o empresário com E maiúsculo, quem muda, ou deveria mudar, também o fluxo natural das coisas. Você pode avaliar o risco de mudar, que existe, é claro. Porém não deixe de considerar também o risco de apenas se adaptar, apenas se “conformar”, que pode ser muito maior. Agora é com você!

*Betania Tanure é doutora, professora e consultora da BTA.

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