O risco das reservas da Petrobras
Por Celso Ming, O Estado de S. Paulo, 30/05/2024
Entre os desafios que a recém-empossada presidente da Petrobras, Magda Chambriard, terá de enfrentar está o de aumentar as reservas de petróleo, em um cenário de transição energética e declínio inexorável da produção do pré-sal.
As reservas da Petrobras são hoje de 10,9 bilhões de barris de óleo, o equivalente a 12 anos da produção atual. A urgência de ampliá-las é consequência de três imperativos: prazo de sete a oito anos entre o encontro de uma jazida e o início da produção; perspectiva do fim da era do petróleo; e necessidade de recursos para investimentos em energia renovável.
Em abril, a companhia anunciou a segunda descoberta de óleo na Bacia Potiguar, que integra a Margem Equatorial. Falta saber o volume recuperável e a viabilidade técnica da exploração. A região é considerada ambientalmente sensível, especialmente na Foz do Amazonas, e exige estudos de impacto ambiental, fator que vem atrasando a aprovação do projeto.
A Petrobras adquiriu recentemente blocos na Bacia de Pelotas, que se tornou promissora depois do encontro de áreas fortemente produtoras nas costas da Namíbia, na África, que guarda reciprocidade geológica com as da Bacia de Pelotas. Também adquiriu participações em três blocos exploratórios em São Tomé e Príncipe e negocia blocos na Namíbia, conforme anunciou o diretor Joelson Mendes em entrevista ao Estadão.
A estratégia de buscar petróleo em outros países enfrenta riscos geopolíticos. Em 1976, a Petrobras descobriu no Iraque o supercampo Majnoon – o maior da época, com 38 bilhões de barris recuperáveis, mas abandonou os investimentos quando o campo foi sabotado durante a guerra Irã-Iraque. Em 2007, o muy amigo presidente Evo Morales nacionalizou duas refinarias da Petrobras na Bolívia e depois indenizou a companhia com um valor bem abaixo do mercado.
Como aponta Marcus D’Elia, sócio da Leggio Consultoria, com as disponibilidades que a Petrobras tem hoje nas bacias do Sudeste, e se continuarem os investimentos em exploração nessas áreas, as necessidades nacionais de petróleo conseguem ser supridas. A Petrobras vem informando que é preciso encontrar novas reservas para evitar que o Brasil volte a importar petróleo, mas D’Elia pontua que essa estratégia visa a manter as exportações da empresa a fim de atender à demanda global – e não para a garantia da segurança energética nacional.
O cenário para os próximos anos, como explica o analista Raphael Faucz, da Rystad Energy, indica que o Brasil vai ganhar mais relevância internacional, com expectativa de superar os 5 milhões de barris diários em 2030 e se estabelecer entre os cinco maiores produtores do mundo.
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