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Onde tudo começou

Por Gustavo H. B. Franco, O Estado de S. Paulo, 28/04/2024

No dia 18 de abril o professor Rogério Werneck reuniu sete ex-professores do Departamento de Economia da PUC-Rio, todos membros da equipe que concebeu e executou o Plano Real.

Mais do que apenas celebrar os 30 anos do padrão monetário estabelecido em 1994, o mais bem comportado dos oito que já tivemos desde 1822, tratava-se, principalmente, de exaltar o papel da universidade para essa histórica conquista.

Foi um encontro emocionante, em que pouco se falou de questões técnicas, mas sobretudo do “fazer acontecer” e da experiência de cada um: portadores de um saber especializado trazidos a Brasília para lidar com uma urgência nacional. Está na internet o vídeo na íntegra.

O fim do flagelo da hiperinflação começou, em resumo, na sala de aula, anos antes, com quadro negro e giz. Uma longa história. No início um projeto acadêmico e a seguir, uma proposta para o País. Mas o trânsito dessas coisas em Brasília não é simples. Não foi na primeira tentativa, nem na segunda.

A resistência inflacionária foi gigante, e não se tratava propriamente da inércia, ou da proverbial ubiquidade da correção monetária, mas dos discretos e resolutos apoiadores da inflação. Eles são muitos, mas trabalham disfarçados sempre contra o combate à inflação, nunca abertamente a favor dela.

Como bem explicou o professor Werneck, a PUC-Rio trouxe para um país depauperado pela hiperinflação o que a universidade tem de melhor: reflexão, inteligência e equacionamento.

A história é bem conhecida, queria destacar apenas um ângulo novo, ou nem tanto, sobre a arte de fazer acontecer.

Idos de 1993, quando tudo parecia impossível. FHC escalou Clóvis Carvalho para o posto de vice-ministro para ajudar na coordenação dessa orquestra caótica de economistas transbordando ideias. O fantasma do impasse está sempre presente em qualquer decisão coletiva de grupos criativos. FHC sabia muito bem e Clovis estava ali para resolver. O Diário Oficial estava esperando.

Assustado com a temperatura de nossos primeiros debates, tão exuberantes quanto inconclusivos, Clovis passou a martelar uma única fala: “Não precisamos de consenso, mas de consentimento”.

Talvez nenhuma de nossas decisões tenha contado com 100% de consenso. Mas todas, sem exceção, foram integralmente abraçadas pelo grupo. A lição era sobre respeitar, portanto confiar nos seus colegas de pelotão, e sempre se movimentar em conjunto, a despeito das inevitáveis diferenças de opinião.

Trinta anos depois, reunidos pelo professor Werneck, festejamos o que nos uniu e ainda une. Uma modesta lição para um país em busca de pacificação.

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