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PAPER 149: Projeto de País (EU SOU BRASIL!!!)

Tema: “Educação, instrução e ética” – 2

 

Este PAPER tem como subsídio básico o PAPER 26 de 20/08/2018, quase cinco anos antes das ocorrências no ambiente escolar do Brasil, com mortes de crianças e até de uma professora a facadas, idealista e já idosa.

Os fatos assustaram muito, em parte por ocorrerem próximos de nós, em nosso país, visto que até então ocorriam em terras mais distantes; agora nossos netos e/ou filhos podem ser vítimas. A mídia divulgou intensamente.

Os menos atentos se surpreenderam; o sintoma não é novo! Apenas não teve o diagnóstico tempestivo, e o tratamento de pronto, competente.

Já vinha, ao longo de algumas décadas recentes no Brasil e de certa forma e outros contextos também em outros países, ocorrendo sintomas preocupantes: agressões físicas de estudantes a professores nas salas de aula, divulgadas pelos jornais e TVs; não se conheceu a reação dos professores e diretores de escolas, públicas e privadas, menos ainda dos pais. Pelo contrário, corriam boatos de inconformismo e atitudes agressivas de pais ante a exigência de professores que atribuíam “notas baixas” aos alunos de sofrível aproveitamento na aprendizagem – o que é surpreendente pois é do interesse do próprio aluno e também de seus pais, a boa formação, base do preparo profissional futuro, além de ser sagrado dever do professor, consciente e vocacionado.

É inquestionável que o vício, a distorção, o equívoco, a má qualidade do ensino crescem quando não recebem o tratamento adequado e na oportunidade própria no nascedouro do sintoma.

A mídia divulgou majestosas reuniões das altas autoridades do País, sob comando do presidente da República, assim como do governador de São Paulo, do que resultaram destinações de recursos financeiros (R$ 3,1 bilhões do governo federal sem indicar critérios de distribuição pelo País – Estadão 19/04/2022 p.A16 e R$ 240 milhões do estadual de São Paulo para “aumentar o policiamento nos próximos dias nas escolas e contratar 550 psicólogos” e que “a rede estadual passará a ter, a partir de junho, um psicólogo para um grupo de 10 escolas…” – Estadão 13/04/2023 p.A18).

A sociedade não foi informada se tais reuniões contaram com a presença de professores, de pais, de estudantes – eles deveriam ser ouvidos – de prefeitos e respectivos secretários de educação – eles deveriam e devem ser responsabilizados.

E daqui a 90 dias, ou 180 dias, o que teremos feito de concreto e eficaz para superar e sanar tão grave problema? Ou será como vem acontecendo com os deslizamentos de morros sobre residências e/ou interrupções de rodovias e pontes (o histórico de Petrópolis é eloquente, antigo e repetitivo) de sorte que após o calor do aproveitamento populista tudo é esquecido – e danem-se os prejudicados, “página virada”.

Está faltando filosofia e visão humanista em tudo que estamos fazendo na política, nos negócios, nas famílias, nas religiões, enfim em todas as atividades: empolgação com progresso material e com novidade tecnológica, desleixando da finitude da vida, dos fundamentos para se viver bem, e de tudo que se precisa para viver bem.

Para complementar os fundamentos já expostos no PAPER 26 de 20/08/2018, disponível no “site” www.conselhobrasilnacao.org, divulgado há quase cinco anos que já nos preocupávamos com soluções para o tema da “Educação, instrução e ética”, podem nos ajudar os textos a seguir transcritos, também disponíveis no “site”, da psicóloga e consultora educacional colunista do Estadão, Rosely Sayão:

 

1) Artigo: “O papel da escola”, Estadão 15/01/2019

Essa é a primeira batalha que a criança deve enfrentar sozinha, sem ajuda dos pais

A escola tem passado por maus momentos. Nunca antes a instituição escolar brasileira foi tão atacada. Temos o Escola sem Partido, movimento político que acredita que o número de professores que busca atrair alunos a determinadas correntes ideológicas é enorme. Eles existem, mas não são tantos assim. Já o contingente de professores e alunos que sofrerá grandes consequências – fora os que já sofreram – resultantes dos princípios desse movimento será muito maior em pouco tempo. Se já não for.

Temos um bordão que foi, e ainda é, socialmente difundido por muitas pessoas e repetido por diversas escolas de que a sua função é a de instruir porque cabe à família educar. Quem repete esse conceito se esquece que, em família, os mais novos ocupam o papel social de filho, mas que, fora da família, exercem outras funções. Além disso, instruir e educar são dois conceitos inseparáveis: ao usar um deles, se aplica, necessariamente, o outro.

Temos também a educação domiciliar, que tem crescido. Pais de milhares de crianças decidiram deixar seus filhos fora da escola para ensinar os conteúdos escolares em casa. Deixam também os filhos longe do encontro com a diversidade de todos os tipos, é claro. Como se não bastasse, pelo jeito agora teremos também um canal de atendimento, a ser criado pela ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, segundo notícias que li, para que professores denunciem – denunciem! – pais que não acompanham a vida escolar dos filhos. Agora, sim: a sociedade, em guerra declarada à escola, quer colocar pais contra professores e vice-versa. Em vez disso, seria importante entendermos melhor as funções da escola para defendê-la!

Quando uma criança nasce, a família se torna responsável por acompanhar seu desenvolvimento e ensinar o básico para que aprenda a conviver com os outros. Falar, ouvir, comunicar-se, fazer refeições, vestir-se adequadamente, colaborar. Esse é o processo que se chama socialização primária e coloca a criança no processo civilizatório.

Ocorre que, em casa, todas as famílias têm as próprias regras e modos de viver e isso é possível porque a família vive na intimidade do espaço privado. E mais: toda a influência familiar que os pais podem passar aos filhos se deve à afetividade. O mundo fora de casa é bem diferente: tem suas próprias regras, gente de todo tipo, tem também ambientes hostis – algumas famílias também têm hostilidade com as crianças –, e demanda conhecimentos específicos para ser compreendido. Para isso serve a escola: colaborar para que os alunos compreendam melhor o mundo – e possam viver melhor – à luz do conhecimento sistematizado, para que eles aprendam a conviver com os diferentes de forma respeitosa. É a chamada socialização secundária.

A escola é a instituição que faz a passagem da família para o mundo. Não é fácil. Os mais novos tentam reproduzir na escola o que aprenderam em casa ou lá fazer o que não podem em casa. Por isso, a escola precisa ser cuidada, protegida. Professores e pais precisam ser parceiros sem misturar papéis. Chamamos de parceria boa quando os pais atendem às demandas que a escola encaminha a eles. Isso não é parceria. Quem frequenta a escola sabe que é comum ouvir a respeito de “pais ausentes” sobre os que não comparecem às reuniões por ela convocadas, sem ouvir a disponibilidade deles, ou de pais que não fazem a lição de casa com os filhos.

Pois saiba que pai ausente em reunião escolar pode ser muito presente na vida dos filhos, e presente às reuniões pode não apresentar interesse verdadeiro pelo filho. A criança, ao crescer, enfrentará inúmeras dificuldades na vida, portanto deve ser estimulada a enfrentar suas próprias batalhas. E a escola é a primeira que ela deve enfrentar sozinha, sem a ajuda dos pais. Isso é o tal preparo para o futuro, para a vida.”

 

2) Artigo: “Ataques convocam todos à reflexão”, Estadão 02/04/2023 p.A19

Atos de violência na escola já foram eventos que aconteciam poucas vezes – e apenas de vez em quando – nas instituições. Mas, de algumas décadas para cá, eles têm acontecido com maior frequência e intensidade, causando graves consequências. O fenômeno é um convite – ou melhor, uma convocação – para refletirmos a respeito.

Em relação aos últimos ocorridos, eu tive de impedir vídeos, que estavam inseridos nas notícias, de rodarem mostrando algumas cenas do momento da agressão violenta. Nossa curiosidade é insana com tragédias. Entretanto, o que será que se passa na cabeça de um adolescente ou mesmo de uma criança quando ela assiste a esses vídeos? Uma coisa é certa: bem para a saúde mental não faz.

Temos a tendência de procurar e apontar culpados quando a escola é atacada. Não há culpados: há responsáveis. E, cada um de nós, tem a sua parcela de responsabilidade nessa questão.

As relações dos adultos nos espaços públicos não têm sido amigáveis, não é verdade? Parece que nossa sociedade está constituída por cidadãos com os nervos à flor da pele: pequenas bobagens têm gerado grandes e até graves reações. Uma fechada no trânsito e uma arma sacada: há alguma proporção nessa equação? E, claro, a escola é um espaço público em que os mais novos ecoam as observações que fazem do mundo.

Nós, pais, continuamos compromissados com as quantidades de conteúdo escolar a ser aprendido pelos filhos; deveríamos ter maior compromisso com a formação humanista que a escola deve oferecer aos alunos. Ensinar virtudes, por exemplo, é missão da escola!

E tem mais: quem escuta os alunos? Quem facilita e tutela a convivência entre eles? Há sala de alunos nas escolas? Há rodas de conversa? Há mediação de conflitos? Há incentivo para a construção de grêmio estudantil? Os professores têm apoio para seu trabalho com os alunos?

E em família? Os mais novos são ouvidos por seus pais ou precisam ouvir mais do que falar?

Vale lembrar sempre que serão eles que assumirão os rumos de nossa sociedade. É deles, portanto, a chance de mudar nosso tecido social, de aumentar nosso capital social.

Temos muitas perguntas a nos fazer porque não há um ou alguns motivos que explicam o fenômeno da violência na escola: é uma rede de motivos que se ligam de modo complexo. Para pensar mais sobre esse tema, vale a pena assistir ao filme Elefante, inspirado no massacre trágico ocorrido em 1999 na escola Columbine, no Colorado, Estados Unidos.

Insisto em um conceito: precisamos ser boa companhia aos mais novos, o que não temos sido, de um modo geral.

Não há culpados: há responsáveis. E cada um de nós tem a sua parcela de responsabilidade”

 

A democracia fundada no Estado de Direito e na cidadania não é uma estação de chegada, mas uma maneira de viajar, visando ao desenvolvimento econômico, político, cultural e social para tornar o Brasil a melhor nação do mundo para se viver bem.

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