PAPER 130: Projeto de País (EU SOU BRASIL!!!)
Tema: “Trazer de volta a indústria para o centro da economia brasileira.” (3)
“Os quatro primordiais empenhos devem ser: garantir a paz, debelar a forme, assegurar postos de trabalho e a educação.”
Karl Popper
No “PAPER”35 de 15/01/2019, divulgado no início do atual quatriênio dos poderes Legislativo e Executivo, elencamos “Nove pontos básicos iniciais que se propõem a encaminhar o Brasil para condições mínimas e básicas de sobrevivência civilizada como país livre, independente, soberano, democrático e desenvolvido:
- Criação de ordenamento político-partidário (…);
- Formação de recursos humanos competentes (…);
- Ajuste fiscal profundo com instrumentos de efetividade sólida e duradoura (…);
- Regulação, em nível constitucional, das relações entre entes federativos (…);
- Reforma tributária a ser efetuada para reduzir a carga tributária (…) com fundamento em novo Pacto Federativo (…);
- A construção da infraestrutura de que o País precisa (…);
- Instituição de necessária condição de previsibilidades, mediante favorável ambiente de negócios, por meio da segurança jurídica e da estabilidade política e econômica, para atrair investidores externos (…);
- A superação da crise iniciada em maio/2014 (…);
- Política creditícia adequada para a atividade industrial e de comércio exterior (…);
- Instituição do Ministério de Comércio Exterior e Diplomacia (…);
- Valer-se da experiência estratégica com a prática das ZPE’s (…) (…) que impulsionaram o desenvolvimento da China nas últimas décadas; (…).
Retirar 80% dos 147 milhões de eleitores brasileiros da pobreza (poder aquisitivo e civilização), não se faz com meras correções cosméticas no sistema econômico; (…) requer um governo e uma geração de brasileiros (…) mediante a instauração de programa econômico (…) com ênfase na economia exportadora (…)”
Após a edição e a divulgação dos “PAPER”s 95 e 129, com mesmo Tema deste “PAPER”, o Estadão de 15/11/2021, página A6, divulgou o artigo “Redescobrindo a importância da indústria” de autoria do empresário Carlos Rodolfo Schneider do Estado de Santa Catarina, cujo conteúdo é compatível com o este PAPER e reforça nossa visão sobre a economia brasileira e suas necessárias transformações, integradas no Projeto de País que propomos.
A seguir a íntegra do mencionado artigo:
“Redescobrindo a importância da indústria
Devemos seguir com o esforço das reformas, desenvolver políticas industriais voltadas para a indústria 4.0 e definir programas de apoio horizontais
Carlos Rodolfo Schneider, O Estado de S.Paulo, 16 de novembro de 2021
A indústria de transformação é o setor que mais investe em inovação (69% do investimento empresarial em pesquisa e desenvolvimento no Brasil, segundo a Confederação Nacional da Indústria), que mais recolhe tributos, que paga os maiores salários (da iniciativa privada) e que gera o maior efeito multiplicador: a cada R$ 1 produzido, são gerados R$ 2,40 na economia brasileira, ante R$ 1,66 da agricultura e R$ 1,49 do setor de comércio e serviços. Mas, nas últimas quatro décadas, o setor vem encolhendo no País por falta de atenção das políticas públicas e pela deterioração da competitividade da nossa economia, o famoso custo Brasil. Segundo o IBGE, em 1980, ele representava 33,70% do PIB, a preços correntes, e em 2018, apenas 11,31%.
Um estudo dos economistas Paulo César Morceiro e Milene Tessarin, da Universidade de São Paulo (USP), que avaliou o processo de desindustrialização de 30 países, englobando 90% da indústria mundial, concluiu ser o caso brasileiro o mais grave. Em 1980 tínhamos o sexto maior parque industrial do mundo, responsável por 4,1% da produção mundial, ante apenas 1,65% da China, por exemplo.
E, segundo o relatório de 2020 da Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial (Unido), a participação do Brasil no valor adicionado da indústria global vem encolhendo ano a ano na última década, até 1,19% em 2019, quando caímos para a 16.ª posição, atrás de Turquia (15.º), Rússia (13.º), México (11.º), Indonésia (10.º), Índia (5.º) e China (1.º). Ao contrário do Brasil, outros emergentes, com economias mais dinâmicas e competitivas, melhoraram sua posição na produção mundial na última década (entre 2010 e 2019); a Turquia passou de 0,9% para 1,2%; a Indonésia, de 1,4% para 1,6%; a Índia, de 2,3% para 3,1%; e a China, de 21,1% para 29,7%. Em apenas 40 anos, nossa indústria passou de uma dimensão 2,5 vezes maior que a da China para 25 vezes menor. Um tombo e tanto, acentuado por agravante denominado especialização regressiva, que significa que setores de maior valor agregado cedem espaço para produtos básicos, ligados a commodities, consequência justamente do custo Brasil.
Como os custos para produzir no Brasil são mais altos, quanto mais longa a cadeia produtiva, maior a defasagem no fim. Isso leva à concentração no início da cadeia, com pouca agregação de valor. É mais produtivo, por exemplo, exportar soja em grão do que óleo de soja.
Em 2019 o governo federal estimou o custo Brasil em R$ 1,5 trilhão por ano. É o que custam as ineficiências estruturais, burocráticas e econômicas que comprometem a competitividade das nossas empresas. A começar pela caótica estrutura de impostos, que obriga a um gasto de horas sete vezes maior para tentar pagar corretamente os tributos (1.509 horas/ano, segundo o Banco Mundial, ante a média mundial de 226 horas/ano). Isso absorve 1,2% do faturamento das empresas industriais, número 9,3 vezes mais elevado do que dos principais parceiros comerciais. Além do que, no Brasil a tributação não é isonômica entre os setores, e a indústria é o mais onerado: respondia em 2019 por 26% dos tributos federais, para uma participação de 11,3% no PIB.
Essa falta de competitividade afeta fortemente a balança comercial da indústria de transformação. Em 2019, o déficit foi de US$ 34,1 bilhões, o 12.º ano de resultado comercial negativo para o setor, segundo o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi). E a queda nas exportações foi quatro vezes mais acentuada nos ramos de alta e média tecnologia do que nos de baixa tecnologia, confirmando a tendência de reprimarização do setor.
Segundo Li Yong, diretor-geral da Unido, nos últimos anos os países vêm reconhecendo a importância das políticas industriais para a prosperidade sustentável. E destaca três fatores: a maior produtividade em relação à agricultura e aos serviços; o maior efeito multiplicador na economia; e por ser o setor que mais gera inovações e avanços tecnológicos. Isso ajudaria a explicar a evolução econômica e social de países que fortaleceram a sua indústria recentemente, como os do sudeste asiático, e a estagnação do Brasil em razão de sua desindustrialização. Para confirmar esse diagnóstico, a Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina (Fiesc) atribui o desempenho diferenciado do Estado em grande parte à força da sua indústria. Para uma retração de 4,1% no PIB brasileiro em 2020, o de Santa Catarina encolheu apenas 0,9% e, apesar da crise, conseguiu gerar 53 mil vagas formais de emprego, um terço do total de vagas abertas no País. Segundo a Fiesc, o Estado é o mais industrializado do País, com 27% do PIB sendo gerado pelo setor (20% pela indústria de transformação, praticamente o dobro da média nacional), bem como 34% dos empregos formais.
São dados importantes para orientar políticas econômicas e para inspirar a classe política. Os problemas de competitividade, em grande parte, dependem de fatores estruturais como baixa produtividade, complexidade do sistema tributário e precariedade da infraestrutura. Devemos seguir com o esforço das reformas, desenvolver políticas industriais voltadas para a quarta revolução industrial, a indústria 4.0, e definir programas de apoio horizontais, e não para 17 setores, para que não sejam eleitos vencedores e vencidos.
*Empresário, um dos idealizadores do movimento brasil eficiente, é membro do conselho superior de economia da FIESP e do conselho empresarial da América Latina”
Cabe rememorar trecho do artigo do Sr. Leandro Miranda “Serenidade e responsabilidade”, Estadão de 15/06/2020, página B7 (citado também no “PAPER”85 de 04/07/2020):
(…) “Estamos enfrentando dados incongruentes ou até mesmo ausência deles, oportunistas políticos e parte significativa da mídia que não olham para o bem-estar social, não querem mostrar nenhum lado positivo, nem trazer esperança, mas, sim, em como aproveitar esta situação para desestabilizar o status quo e criar pânico não só na nossa sociedade mas no mundo todo, trazendo desalento para a sociedade, afastando investidores e deprimindo o preço dos nossos ativos, deixando nossos governantes com um medo paralisante de cortes, com dificuldade de diálogo e incapacidade de liderança e gestão. Que vergonha. Quanta falta de patriotismo. Quanta falta de seriedade. Quanta incompetência.
E agora? O que devemos fazer? “Back to basics.” Voltemos aos fundamentos. (…)
(…)Trabalhe de forma séria e dedicada. E, acima de tudo, mantenha a serenidade. Vai acabar tudo bem. A história nos mostra isso. É uma fase, mas ela tem que ser levada a sério. Mas, como fazer isso?
Planeje como um oriental, não importa o tempo que leve. Execute como um germânico, com atenção e seriedade em cada detalhe, em cada fase do percurso, levando o tempo necessário para executar o que foi planejado à risca. E, depois, faça marketing dos resultados como um norte-americano. Mas, mantenha serenidade. Tudo tem seu tempo.”
Necessariamente deverá estar na pauta dos eventuais trabalhos sugeridos pelo Sr. Leandro Miranda, ao nosso ver, impedir, ou no mínimo tentar evitar a realização da tendência que foi anunciada pelo Estadão de 28/11/2021, páginas B1 e B2 em reportagem da jornalista Fernanda Guimarães na seção Mercado de capitais MUDANÇA DE FOCO.
Os títulos das reportagens são:
- “Empresas avaliam trocar B3 por EUA – Com migração para a Bolsa americana, companhias querem fugir da volatividade do mercado local e ter acesso a recursos para bancar projetos de expansão no exterior.”
- “Ida a NY reflete apetite externo e aversão ao risco brasileiro – Entre os fatores que pesam contra o País lá fora, estão falhas no sistema societário e tensão com eleições do ano que vem.”
O ambiente atual de negócios no Brasil – e já vem de longe – é o contrário do que foi oferecido pela China desde 40 anos atrás, e que se mostrou exitosa.
No “PAPER”30 de 05/10/2018 tínhamos registrado as seguintes argumentações, em favor da construção da economia brasileira voltada deliberadamente para exportação.
“A capacidade dos empreendedores do sistema produtivo brasileiro para praticar tal política é existente e real, testemunhada por diversos “cases”, como são as emblemáticas AMBEV e EMBRAER, e outras 15 empresas brasileiras classificadas como multinacionais a seguir relacionadas (Relação divulgado pelo “ranking FDC – Fundação Dom Cabral das Multinacionais Brasileiras 2017, com base no índice de internacionalização calculado a partir dos ativos, receita e funcionários no exterior em relação ao total”): FITESA, INTERCEMENT, IOCHPE-MAXION, STEFANINI, ARTECOLA, METALFRIO, CZM, DMS, MARFRIG, JBS, GRUPO ALUMINI, TUPY, MINERVA FOODS, MARCOPOLO.”
“Um ‘case’ significativo é do grupo empresarial IOCHPE-MAXION do Rio Grande do Sul (Jornal Valor de 15/08/2018, página B4) hoje com 31 fábricas em 14 países das Américas, Europa e Ásia, com receita operacional líquida de R$ 2,4 bilhões – na qual as operações no exterior respondem por 80% do faturamento – 15 mil funcionários, produz 60 milhões de rodas para veículos que vão para linhas de montagem de todo o mundo.
Essa indústria, assim como muitas outras poderiam fabricar no Brasil e exportar, criando empregos para brasileiros e gerando receita tributária no Brasil. É para isso que o Brasil precisa se preparar e se orientar para superação da crise. O exemplo é representativo das outras multinacionais citadas.”
“Assim sendo, o Governo da União para bem desempenhar-se dos mais importantes interesses do país, quais sejam Moeda, Defesa, Justiça e Comércio Exterior e Diplomacia, deve limitar a eles suas competências constitucionais. (Não se trata de mera redução na quantidade de ministérios, mas de, estrategicamente, em acatamento a doutrina da estrutura da Federação, limitar o âmbito de ação executiva do Governo Federal.) Aos governos subnacionais cabem as demais competência constitucionais regionais e locais. Assim os assuntos regionais (Infraestrutura, Energia, Ciência e Tecnologia, Ensino Superior, Medicina Terciária, Agronegócio, Indústria de transformação e outros pertinentes às peculiaridades das diversas regiões do país) que devem ser destinados à competência constitucional dos Estados membros, bem como os assuntos locais que devem ser dos Municípios (Ensino Básico e Profissionalizante, Saúde Primária e Secundária, Habitação Popular, Saneamento Básico, Meio Ambiente e outros)”
CONCLUSÃO
O artigo do Sr. Carlos Rodolfo Schneider e o excerto do artigo do Sr. Leandro Miranda possibilitam considerar que muitos brasileiros pensam e propugnam por soluções eficazes para a situação na qual se encontra o País.
Os dois artigos citados neste “PAPER” exemplificam opiniões de alto significado no atual contexto, e seus autores não figuram em posição de decisão nas organizações de Representação, assim como aquelas expostas nos 823 artigos arquivados e disponíveis no “site” do Conselho Brasil-Nação – que são contribuições espontâneas e voluntárias, divulgadas no Brasil e no exterior – não têm sido consideradas pelas autoridades do País. E ainda, reservadas as devidas modéstias, nos “PAPER”s divulgados.
Essas manifestações precisam ser ouvidas pelos poderes constituídos na figura de seus ocupantes. No mínimo atentar para a citação de Peter Drucker: “A essência da comunicação está em ouvir o que não está dito.” O órgão mais importante para qualquer político é o OUVIDO.
É urgente a estruturação política da sociedade, tarefa que pode e deve ser atribuída aos profissionais liberais, (advogados, médicos, engenheiros, cientistas, economistas, administradores, professores, e tantos outros) cada um em sua especialidade e seus âmbitos de atuação, privilegiados que são pelo acesso ao ensino superior – muitos em universidades públicas. Os profissionais liberais podem conceber-se como uma COMUNIDADE com participação institucional em posições qualificadas nos órgãos públicos e empresas privadas, e fazer prevalecer sua sabedoria e integridade originadas de seus juramentos de Colação de Grau em cada profissão. Esses brasileiros podem impedir, ou no mínimo dificultar o sucesso na política de aventureiros e/ou despreparados – a “política é a cabeça da sociedade”, a rejeição ou omissão já foi tratada por Platão (“A punição aos bons e omissos é serem governados pelos maus que agem”).
É oportuno alertar ao fato de que a competição entre países e entre seus níveis econômicos guarda estreita e profunda relação com a qualidade da produção das universidades de cada um deles, razão pela qual a missão dos egressos das universidades não se encerra na graduação, ou na pós-graduação. Cada país depende do desempenho e influência de seus profissionais liberais, que permeiam a sociedade, para a condução de iniciativas, de reformas de melhorias permanentes das instituições, das composições de governos – incluídos os processos eleitorais –, da participação na efetividade e cobranças de cumprimento de pactos pré-eleitorais.
É mais inteligente se antecipar aos fatos do que “correr atrás do prejuízo” e jamais se recuperar, pois “a água não passará pela segunda vez num mesmo ponto de um rio”, principalmente na Política.
As organizações de Representação no Brasil, como são as Federações – industriais, comerciais e de serviços –, bem como os Sindicatos patronais e diversas outras importantes organizações da sociedade civil, têm deixado a desejar, para dizer o mínimo, pela precariedade, em muitos casos nociva, de sua influência nas ações político-governamentais. Seus representados, para simplificar, têm seus ativos expostos aos riscos, implicados e consequentes, da permanente situação de crise no Brasil – que é instabilidade política, econômica e social – como as duas reportagens comprovam.
É inaceitável que as mencionadas organizações de Representação e os Poderes governamentais constituídos não se pronunciem e ajam para impedir possível tendência, anunciada pelas Reportagens citadas, é nociva aos interesses nacionais brasileiros pelas razões já expostas no “PAPER”30 de 05/10/2018.
A democracia fundada no Estado de Direito e na cidadania não é uma estação de chegada, mas uma maneira de viajar, visando ao desenvolvimento econômico, político, cultural e social para tornar o Brasil a melhor nação do mundo para se viver bem.
Personalidades autoras de artigos e citações neste “PAPER”:
– Carlos Rodolfo Schneider, Empresário, graduação e MBA pela FGV- SP, é membro do conselho estratégico da FIESC , do conselho superior de economia da FIESP e do conselho empresarial da América Latina – CEAL.
– Fernanda Guimarães, jornalista.
– Karl Popper,filósofo e professor austro-britânico.
– Leandro Miranda, graduação e MBA em finanças pelo Ibmec, MBA pela Universidade de Michigan, Diretor Executivo & de Relações com Investidores do BRADESCO.
– Li Yong, diretor-geral da United Nations Development Industrial Organization, foi vice-ministro do ministério de finanças da China.