PAPER 61: Projeto de País (EU SOU BRASIL!!!)
Tema: Feliz Natal de 2019
“Outros povos podem ser felizes ou desgraçados por obra de estranhos. Os povos democráticos são os únicos que tem o bem e o mal feitos por suas próprias mãos”. J.F. Assis Brasil, político gaúcho, 1893.
Conselho Brasil-Nação ambiciona não “qualquer democracia” mas a democracia que possibilite “transformar o Brasil no melhor país do mundo para se viver bem”,
mais do que desenvolvimento político, econômico e social, há de ter valores subjacentes na cultura do povo, com fundamentação filosófica da espiritualidade e da moral.
Brindemos nosso NATAL de 2019 com os elevados ensinamentos do filósofo e ex-ministro da Educação da França, Luc Ferry, cujo texto completo pode ser acessado aqui no Portal. Transcrevemos a seguir a última pergunta e respectiva reposta, da entrevista concedida ao jornal Estadão, de 08/12/2019, página E1, sob o título “A LUTA PELO HUMANISMO SECULAR”:
“O senhor veio ao Brasil falar sobre o significado da vida. Qual seria uma forma satisfatória de dar sentido à vida sem criar um sistema religioso de pensamento, mantendo-se uma filosofia secular?
Muita gente pensa que espiritualidade signifique religião. É um erro grave, pois todas as grandes filosofias são espiritualidades laicas. Para entender isso, é necessário fazer uma distinção infelizmente oculta do debate público: é preciso evitar confundir duas esferas de valores muito diferentes, comparáveis àqueles pelos quais nossas vidas se orientam permanentemente: valores morais de um lado e valores espirituais de outro. Vejamos isso um pouco melhor. A moral, em qualquer sentido que se entenda, é o respeito ao outro, aos direitos do homem, ao qual se soma a benevolência, a generosidade, a gentileza. Atuar moralmente é respeitar o próximo e lhe desejar, se possível ativamente, o bem. Não conheço nenhuma moral que diga o contrário. Seja Sócrates, Jesus, Buda ou Kant, todos nos convidam a respeitar o outro, a ter compaixão e a rejeitar a violência. Imaginemos por um instante que dispuséssemos de uma varinha mágica que nos permitisse, de um só golpe, fazer com que todos os seres humanos se conduzissem moralmente uns com os outros. Se aplicássemos com perfeição os valores morais, não haveria mais neste planeta nem massacres, nem estupros, nem roubos, nem assassinatos, nem injustiças e nem, provavelmente, uma desigualdade social tão grande. Seria uma revolução. Entretanto – e é aí que vem à luz a diferença entre valores espirituais e valores morais – isso não impediria que envelhecêssemos, morrêssemos, perdêssemos um ente querido, sofrêssemos por amor ou simplesmente nos aborrecêssemos com uma vida cotidiana marcada pela banalidade. Pois essas questões – velhice, luto, amor, tédio – não são essencialmente morais. Você pode viver como um santo ou uma santa, ser gentil como os anjos, respeitar e ajudar o próximo, defender os direitos do homem… que mesmo assim envelhecerá, morrerá, sofrerá. Essas realidades, como diz Pascal, são de outra ordem, que depende da “espiritualidade” compreendida no sentido da vida do espírito, aquela espiritualidade que não se limita ao religioso e vai além da moral. De que se ocupa ela? De nossa relação com a morte ou, na verdade com a questão da vida boa para os mortais, o que é a mesma coisa. Desse ponto de vista, é evidente que existem dois tipos de espiritualidade, duas maneiras de abordar a questão da sabedoria e do bem viver para os que vão morrer e sabem disso, ou seja, todos nós: a espiritualidade que tem deuses e fé são as religiões; a espiritualidade sem Deus e pelo caminho da simples razão são as grandes filosofias – que, de Platão a nossos dias, se ocupam da questão final sem passar por Deus e pela fé.”
A democracia fundada no Estado de Direito e na cidadania não é uma estação de chegada, mas uma maneira de viajar, visando desenvolvimento econômico, político e social para tornar o Brasil o melhor país do mundo para se viver bem.