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PAPER 62: Projeto de País (EU SOU BRASIL!!!)

Tema: “Ligar os motores”: O que afeta nosso País, nossa Nação, nossas vidas.

 

Para “ligar os motores” após o prolongado interregno natalino e “réveillon”, transcrevemos a seguir textos (parciais) de pensadores importantes, cujos textos completos podem ser acessados aqui no portal para mais completa compreensão do que eles buscam comunicar (basta digitar o título do artigo e clicar).

  • Os pensadores são:

    – Notas & Informações – O Estado de S. Paulo
    – Mônica De Bolle – economista, pesquisadora do Peterson Institute – EUA
    – Carlos Melo – cientista político, professor do Insper
    – Barry Eichengreen – economista, prof. da Universidade da Califórnia – EUA
    – Vera Magalhães – jornalista e colunista do Estadão

    • “O que dizem as ruas”, Estadão de 29/12/2019, Pg. A3
      Notas & Informações

    (…) “o descontentamento de uma classe média que se considera esquecida ou menosprezada pelo Estado que ela paga para manter. ” (…)

    (…) “Portanto, há pelo menos duas décadas o continente demonstra, aqui e ali, mal-estar com a estagnação econômica que condena à mediocridade – quando não à pobreza – grande parte da população. E tem feito pouca ou nenhuma diferença se o governo é de esquerda ou de direita: a sensação dos eleitores em geral é que, em qualquer dos casos, as promessas de desenvolvimento e de prosperidade só se cumprem para os que já estão no topo da pirâmide.

    Não há dúvida de que se vive melhor hoje, em qualquer país deste continente, do que há meio século. Mas a formidável riqueza proporcionada pelas novas formas de produção derivadas da revolução digital ainda em curso tem se concentrado nas mãos de poucos investidores globais, enquanto à maioria das pessoas comuns resta adaptar-se o mais rápido possível ou condenar-se ao subemprego e à falta de perspectiva. ” (…)

    (…) “Prestar atenção ao que reclamam as ruas é essencial numa democracia; responder a essas demandas com demagogia, contudo, é apenas irresponsabilidade. “

    • “A década da ansiedade”, Estadão 29/12/2019, Pg. B7
      Mônica De Bolle

    “A ansiedade é a tontura da liberdade”
    Soren Kierkegaard

    “Para alguns, a década prestes a se encerrar foi de rupturas. Na economia, a crise global de 2008 redefiniu os rumos da política econômica ao longo de todo o período transcorrido entre 2010 e o fim de 2019: velhos dogmas caíram por terra, como o de que inflação seria a consequência inevitável da emissão de moeda em grandes quantidades que ainda fazem os bancos centrais nos países desenvolvidos. Na política e nas relações internacionais, o repúdio à globalização, que parecia bem estabelecida durante os anos 1990 e o início dos anos 2000, fez ressurgir o nacionalismo estridente em seus diversos matizes. Na vida social e política, o alcance das mídias sociais contribuiu para exacerbar a polarização de arranjos, práticas e opiniões, abalando instituições que haviam sido concebidas para facilitar a convergência ao centro e à moderação. Tudo isso pode ser interpretado como ruptura. Mas tudo isso também pode ser interpretado como uma vertigem da liberdade, fruto de uma ansiedade causada por um mundo em contínua transformação. ” (…)

    (…) “A ansiedade também se exprime de formas menos auspiciosas, evidentemente. Os anos 2010 foram marcados pelo aprofundamento da polarização política como forma de lidar com o medo daquilo que não se sabe. O medo, quando exacerbado, provoca a busca por explicações simplistas e por bodes expiatórios. A política nesse fim de década está repleta de exemplos de como esse medo se expressou: das promessas falaciosas do Brexit e de Donald Trump às falsas esperanças atreladas ao bolsonarismo. O bolsonarismo, aliás, pode ser encarado como expressão extrema da ansiedade – uma espécie de crise de pânico que acometeu a sociedade brasileira em um desenlace traumático do petismo” (…)

    (…) “O Brasil terá de escolher. Escolher se quer continuar a se desintegrar em meio à crise de pânico ou se pretende libertar-se da vertigem coletiva para integrar os novos debates que estarão ocorrendo, com ou sem o País. Feliz 2020. “

    • “Mesmo thriller, segunda temporada”, Estadão de 29/12/2019, Pg. B5
      Carlos Melo

    “O otimista rejubila-se com a reforma da previdência enfim aprovada pelo Congresso Nacional. Também aponta a inflação sob controle, os mais baixos juros e a retomada econômica que, tímida, dá o ar da graça. É melhor ser alegre que ser triste. E é necessário justificar apostas (frustradas), feitas após a eleição. Ao longo do ano, o mercado cantou “só quero saber do que pode dar certo”. Mas há de admitir que muito tempo se perdeu.

    Os mais rigorosos sabem que o ano poderia ter sido melhor. Rejubila-se o otimista porque o ano foi bom somente por não ter sido pior. Para um primeiro ano de governo, o presidente Jair Bolsonaro desperdiçou a lua de mel já na noite de núpcias: nos discursos de posse, amarrou-se ao mastro do sectarismo e ao gueto eleitoral. Não atinou para a obrigação de ser “presidente de todos”, foi estreito. Abusou do personalismo, desprezou a impessoalidade republicana; transformou a família no centro do governo. Não percebeu que deixara de ser deputado do baixo clero, da pauta de costumes, da crítica kitsch ao socialismo; da política externa incapaz de diferenciar interesses de ideologias.

    De fato, Bolsonaro prometeu – e tem entregue – uma nova forma de fazer política: a não política, que troca o diálogo pela truculência. Quase nada construiu. Ganhou fama no planeta soando arrogante; isolou o País do continente; colocou em risco relações com a China, os árabes, a maioria da Europa. Agarrou-se a Donald Trump com paixão e indisfarçada submissão – política e estética. Na ciência, basicamente, retrocedeu ao terraplanismo; no meio ambiente, o descaso e o estímulo às piores práticas bateram recordes diários de constrangimento. ” (…)

    (…) “Difícil dizer o que esperar de 2020: nos últimos dias, o noticiário tornou a ferver. O presidente e sua família estão acuados; o bolsonarismo movimenta-se desordenado, entre o embaraçoso e o patético das plateias nas portas dos palácios. A emoção estará ainda mais presente, sobretudo em ano eleitoral, como será o caso. O ambiente volátil, disputas nas bases municipais; a luta pelo território e pelas máquinas que pode reforçar conflitos. ” (…)

    (…) “O fortalecimento da liderança do presidente da República tampouco pode ser projetado. E há também no horizonte a delicada sucessão das presidências da Câmara e do Senado, o que já é sussurrado nos corredores. ” (…)

    (…) “Sucedê-los será um risco, mantê-los ao arrepio da Constituição tampouco é solução. Além da insegurança jurídica, há fila no Centrão. A impressão mais forte é que 2020 será 2019, segunda temporada; a sequência do mesmo thriller alucinante. Sem virtù, o País depende da fortuna. “

    • “Um conto de dois mundos”, Estadão de 29/12/2019, Pg. B6
      Barry Eichengreen

    “O mundo dos países avançados verá algum reequilíbrio econômico e, como resultado, um abrandamento de tensões. As taxas de crescimento nos Estados Unidos provavelmente diminuirão. Certamente ninguém – com certeza não o Fed – pode estar confiante sobre o que se constitui pleno emprego nos Estados Unidos, dada a ascensão da economia “gig” e as mudanças estruturais relacionadas. Mas com o desemprego em 3,5% e os aumentos salariais acelerando, o mercado de trabalho está cada vez mais apertado. ” (…)

    (…) “Enquanto isso, a expansão na Europa e no Japão está prestes a se acelerar. A zona do euro, o Reino Unido e o Japão estão se preparando para fornecer mais apoio fiscal ao crescimento em 2020” (…)

    (…) “Seja como for, essas economias experimentarão mais incentivos. O Reino Unido se beneficiará de menos incerteza eleitoral ou relacionada ao Brexit. Por terem crescido mais lentamente que os EUA, essas economias terão mais espaço para acelerar. ” (…)

    (…) “À medida que o crescimento na Europa e no Japão se recupera em relação ao dos Estados Unidos, o euro e o iene se fortalecerão em relação ao dólar. Isso não garante que Trump esteja causando problemas, e os tuítes instáveis e ações do presidente ainda constituam um dos principais riscos para esse cenário benigno. Mas um dólar mais fraco removerá pelo menos um ponto crítico óbvio para o conflito internacional. ” (…)

    (…) “Mas, embora a guerra comercial de Trump não termine em 2020, ela também não explodirá. Os dois lados parecem ter aprendido a administrá-la – ou pelo menos os chineses parecem ter aprendido a lidar com Trump.

    O país com mais amor pelo acordo comercial da “Fase Um”, é claro, é o Brasil, uma vez que mais importações chinesas de soja dos EUA significarão menos do Brasil. Isso nos leva à outra América Latina, metade da história. Aqui os desequilíbrios e tensões parecem prestes a persistir e, no mínimo, piorar. A Venezuela é um desastre e a Argentina mostra todos os sinais de se tornar um também. O novo governo parece preparado para aumentar os gastos públicos e afrouxar a política monetária sem abordar os problemas do lado da oferta da economia. ” (…)

    (…) “O que poderia fazer uma diferença positiva para a região? A resposta óbvia é o Brasil. A economia do Brasil continua sendo duas vezes maior que a do México e cinco vezes a da Argentina. O governo concluiu a reforma previdenciária. Mas Bolsonaro agora recuou da implementação de reformas fiscais e administrativas, temendo distúrbios populares como os que eclodiram no Chile e na Bolívia. Se vai permanecer ou não nessa rota determinará se as entradas de investimento estrangeiro vão aumentar e se a taxa de crescimento do Brasil, atualmente baixa, se acelerará em 2020.

    Bolsonaro está certo em temer que funcionários públicos, em particular os que ganham menos, não reajam bem às reformas do setor público que eliminam suas garantias de emprego e promoções automáticas. Mas, se ele adotar essas medidas juntamente com reformas que tornam o sistema tributário brasileiro mais progressivo, o que ele tira desses trabalhadores com uma mão, será devolvido com a outra. A implicação é que as reformas precisam ser projetadas e apresentadas como um pacote.

    ‘Foi o melhor dos tempos, foi o pior dos tempos. Era a era da sabedoria, era a era da tolice. ‘ Assim escreveu Charles Dickens em Um Conto de Duas Cidades. Ele poderia estar escrevendo sobre o próximo ano”

    • “2013, o ano que mudou a década”, Estadão de 29/12/2019, Pg. A6
      Vera Magalhães

    (…) “A década de 10 vai chegando ao fim, mas os ecos daquele 2013 em que tudo virou do avesso ainda vão ser sentidos ao longo dos anos 20. Apertemos os cintos e respiremos fundo.”

    A democracia fundada no Estado de Direito e na cidadania não é uma estação de chegada, mas uma maneira de viajar, visando desenvolvimento econômico, político e social para tornar o Brasil o melhor país do mundo para se viver bem.

 

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