PAPER 76: Projeto de País (EU SOU BRASIL!!!)
Tema: “Quo vadis?”
“Se o homem (a pessoa) não sabe a que porto se dirige, nenhum vento lhe será favorável”.
Sêneca, séc. I d.C.
Aleksandr Soljenitsin falou de um mundo moderno onde todos os países – tanto capitalistas como comunistas – tinham sido impregnados por uma “consciência humanística desespiritualizada e irreligiosa”, em seu discurso de formatura aos alunos de Havard em 1.978:
“Para tal consciência, o homem é a pedra de toque para julgar tudo sobre a Terra – o homem imperfeito, que nunca está livre do orgulho, do egoísmo, da inveja, da vaidade e de dezenas de outros defeitos. Estamos agora vivenciando as consequências de erros que não tinham sidos notados no início da jornada. No caminho do Renascimento até os nossos dias, enriquecemos nossas experiências, mas perdemos o conceito de uma Entidade Completa Suprema que costumava restringir nossas paixões e nossa irresponsabilidade. Depositamos demasiada esperança em reformas políticas e socias, somente para descobrir que estávamos sendo privados de nosso bem mais precioso: nossa vida espiritual.”
“Realismo é importante. Pragmatismo, cientificismo e ceticismo também são. Todos eles têm seu lugar. Mas ainda assim, você tem de a acreditar em alguma coisa. Simplesmente tem. Se não tudo é vazio e frio.” (Ryan Holliday, pensador e escritor sobre filosofia antiga e seu papel no cotidiano)
Uma doença global violenta, contaminada e processada por agente invisível: CORONAVÍRUS. As primeiras notícias vinham da China, província de Hubei, com 60 milhões de habitantes, em dezembro de 2019. Todos conhecem a rápida evolução e alastramento para mais de 80 países, até o momento, com mais intensidade e velocidade de propagação nos países mais populosos e prósperos do planeta, China, Europa, EUA, países asiáticos, e também nos menos prósperos, América Latina, África.
No Brasil os primeiros sinais se iniciaram em fins de janeiro de 2020 e a epidemia já se alastrou para todo o território brasileiro, também aqui com mais rapidez e intensidade nas regiões mais prósperas e populosas.
Os dirigentes públicos foram tomando as providências que entendiam ser as cabíveis. Nesse ponto começaram a surgir as dificuldades até mais sérias que o próprio coronavírus, sob certos aspectos: desunião e discórdia.
As autoridades políticas não tardaram em pretender “sair na frente”, cada qual no seu espaço ao sabor do fascínio por holofotes.
Assim, foi dada a “largada”, sem estruturação orquestrada com fundamento científico e organizacional dos reconhecidos expertises no tema, na linha do “achismo” e da imitação do que estava sendo praticado em outros países que tem diferentes condições econômicas, domínio de tecnologias em saúde pública, clima, condições socio-econômicas e mesmo a sazonalidade.
A autoridade máxima do País deveria ter-se entendido com as demais autoridades de todos os níveis da Federação e dos Três Poderes da República com os cientistas e profissionais de saúde para enfrentar o problema, em uma formação única, incluindo-se lideranças de todos os setores da sociedade, respeitando-se o princípio da subsidiariedade.
Pois, para enfrentar um problema da magnitude do coronavírus ter-se-ia de se apoiar em metodologia equivalente a do lendário professor de Geometria Descritiva do Cursinho Anglo Latino nos anos 60, cujo primeiro princípio para enfrentar um problema, ele expunha: “Primeiro pensa, depois faz”.
Já no meio do embate, em que o Brasil sofria ataque pelo inimigo que é invisível e capaz de fazer da vítima agente de transmissão destinado a vitimar outros, eis que a defesa do País, por seus atores, encontrava-se dividida em por qual metodologia optar: “quarentena em quatro graduações” ou “o Brasil não pode parar”. A divisão decorre da discórdia entre os líderes políticos que, em essência, significa aliar-se ao vírus, que já é poderoso. Essa divisão, mesmo que não traduza o comportamento dos líderes políticos, passou para a sociedade tratar-se de competição eleitoral com vistas às eleições presidenciais de 2022.
Como são agentes políticos nunca fica sem a ocorrência de procedimentos e protagonismos revestidos do caráter de competição dadas as medidas e iniciativas que cada qual julga serem aplicáveis, quando na verdade a circunstância requer cooperação e harmonia na unidade de comando para ações contra o inimigo comum: o CORONAVÍRUS, num país como o nosso de parcas e frágeis condições financeiras, e população de 210 milhões de habitantes.
“Na economia, as soluções rendem mais que os problemas. Na política, os problemas valem mais que as soluções.” (Nicolai Bukharin, 1888 – 1938, economista e político soviético).
Nos encontramos na fase em que foi suplantado o susto da surpresa e apreensão, a sociedade já “deu entrada em campo”, com seus recursos que são iniciativas voluntárias e filantrópicas, diante das discordâncias das lideranças políticas, e dos cientistas e profissionais de saúde, parte contra e parte a favor; já estão se envolvendo no processo lideranças de todos os setores, do que se espera bom trabalho, tendo engajamento de todos os veículos da imprensa escrita, falada e televisionada, em que se incluem as redes sociais, no espaço possibilitado pela cisão dos atores políticos.
Conselho Brasil-Nação está envolvido com as atividades que pode desenvolver, juntando-se aos que, de um lado, atuam para conter a contaminação e propagação da doença mediante eficaz e eficiente emprego dos recursos sanitários da estrutura do Estado, sejam estruturas governamentais, bem como universidades, centros de pesquisa científico-tecnológicas, e de outro lado, e concomitantemente, as iniciativas econômicas por parte dos governos para amparar o Sistema Produtivo pela manutenção de empregos, e das estruturas produtivas empresariais, dar suporte a atividades de Autônomos e ocupações por conta-própria, trabalhadores informais, bolsões de vulneráveis, contando com o envolvimento também de organizações da sociedade civil, filantrópicas e voluntariado, religiosas, sindicais, da academia, clubes de serviços e sociedades em geral.
A situação em que nos encontrávamos em 28/03/2020 era a pior possível, pois a população e seus líderes estavam e ainda estão em desvantagem pois sendo atacados pelo inimigo e estando desunidos e em disputa, como podem nos defender? Uma defesa dividida, em discórdia, disputando o nada, enquanto que o inimigo em ataque é forte, definido, sabe o que quer, inatingível fisicamente (ainda pelo menos), segue sereno sua estratégia.
Esta é uma batalha peculiar diferenciada das que a humanidade conheceu até hoje, em que o atacado e o atacante eram visíveis materializados (pessoas, territórios, armas, tanques, veículos, etc). Nessa batalha o atacante é invisível; não se sabe quando o atacado foi ou será atingido, e que após ser atingido, passa a trabalhar, inconsciente ou ignorantemente, para o atacante na função de transmissor do mal, integrando a cadeia operacional de produção exponencial de contaminação.
Solução: FIQUE EM CASA, foi a ordem “que pegou”. O armamento disponível a cada pessoa para evitar o atacante antes que atinja o potencial atacado é o de exercer o potencial da paciência, disciplina, calma, resignação, empatia e convicção resoluta, moderação e firmeza, e reclusão tranquila combinada com a deliberação prudente e compartilhada.
“As pessoas não entendem que o mais difícil na verdade é fazer algo próximo de nada. Exige tudo de você… …não há nenhum objeto atrás do qual se esconder. É só você.”
“Estar presente exige tudo de nós. Não é nada. Talvez seja a coisa mais difícil do mundo.”
Estadão, 28/03/2020, página A16
“País pode ter ao menos 44 mil mortes; isolar só idosos eleva número para 529 mil”. A projeção é do Grupo de Resposta à Covid-19 do Imperial College de Londres:
“Uma estratégia de isolamento social de manter só idosos em casa … …ainda poderia levar à morte mais de 529 mil pessoas no Brasil por covid-19. O número é metade do que se projeta para um cenário em que nada fosse feito no País para conter a dispersão do coronavírus (1,15 milhão de óbitos). Mas é bem mais alto do que a estimativa para um isolamento social rápido e amplo. Mesmo com essa restrição mais drástica, haveria ao menos 44 mil mortes pela doença.”
“Nossa análise destaca as decisões desafiadoras enfrentadas por todos os governos nas próximas semanas e meses, mas demonstra como uma ação rápida, decisiva e coletiva agora poderia salvar milhões.”
“Pressão no SUS será cada vez maior, diz ministério (da Saúde)”
“O secretário executivo do Ministério da Saúde, … …, afirmou ontem que o Brasil vivencia uma “fase de transição” do perfil dos pacientes diagnosticados com o coronavírus. ‘Alertávamos aqui que os primeiros casos eram de pessoas de um nível socioeconômicos melhor. Eram pessoas que estavam vindo de outros países.’ Os casos importados da doença não utilizavam, em grande parte, o Sistema Único de Saúde (SUS). Com a propagação da doença, diz que o sistema será mais exigido. ‘Isso vai começar a forçar a resposta do atendimento na rede básica de saúde.’”
‘É tempo de cuidar’, autores do artigo cuja íntegra está disponível aqui no portal: Luíz Seabra, Guilherme Leal, Pedro Passos e Roberto Marques, dirigentes da Natura & Co. (Estadão, 31/03/2020, página B6) artigo transcrito parcialmente.
“Somos todos – indivíduos, famílias, empresas, países e civilização – herdeiros de um fenômeno extraordinário, nosso maior patrimônio: a vida. (…)
(…) Se somos produto de uma civilização individualista, temos agora ainda maiores razões para sonharmos com a emergência de uma humanidade mais solidária e cooperativa. Com certeza o poeta não era ingênuo quando afirmou que ‘a aurora é lenta, mas avança’.
Ele apenas descrevia como nasce a beleza, à espera do nosso olhar”
Disponibilizamos no Portal dois artigos que tratam de epidemias em épocas distintas, na China, Europa, em especial Itália: não podemos prescindir das experiências históricas de epidemias que diversos povos já vivenciaram, inclusive o Brasil em 1.918 e mesmo China em 1.334 e a Itália em 1.629.
- O primeiro artigo intitulado “Covid-19: o que aprendemos?”, veiculado pelo Estadão em 24/03/2020, página A16, autoria do economista Roberto Fendt.
- O segundo artigo intitulado “Como a gripe espanhola parou São Paulo em 1.918”, veiculado pelo Estadão em 22/03/2020, página E2, de autoria do escritor romancista José Roberto Walker; a epidemia ocorrida na época da Primeira Guerra Mundial, sendo que ao final foram 5.500 mortos e mais de 200 mil ficaram doentes, quando São Paulo tinha 500 mil habitantes.
Na atual situação dessa crise devemos com serenidade, humildade, aplicação e inteligência fazer a “leitura” precisa do comportamento estratégico dos demais países na formação histórica de seus povos, para concluir o que é de interesse nacional para o Brasil e como corrigir a rota que nos trouxe até aqui, para, então, estabelecer as diretrizes para erradicação da PROBREZA, causa da fragilidade de nossa economia.
Essa crise do Coronavírus revelou para os que ainda não sabiam da POBREZA no País, em que pese com frequência nossos “PAPER”s terem apontado:
“Por que em um país de grandes riquezas e singulares belezas naturais, e ter investido na industrialização durante o século XX, vive um povo ainda na pobreza?
Para enxergar a pobreza não basta a sensibilidade e observação; há que se medí-la para melhor vê-la.
Uma primeira medição seria: o Brasil com 210 milhões de habitantes e com um total de 147 milhões de eleitores em 2018, apenas 30 milhões de brasileiros estiveram obrigados a declarar Imposto de Renda em 2019 (ou seja, com renda superior a R$ 28.500,00 por ano). Então, dentre os cidadãos habilitados a votar que estão acima de 16 anos, 117 milhões de brasileiros tem renda inferior a R$ 2.375,00/mês. Em complemento, o IBGE pela Pesquisa Nacional por Amostra Domicílios Contínua (Pnad Contínua) iniciada em 2012, informa que a metade da população mais pobre, ou 104 milhões de brasileiros, vive com apenas R$ 413 mensais (Estadão 17/10/2019 página B4).
Acrescente-se ainda que o Estadão (07/11/2019 página B6) informa pesquisa do IBGE da Coordenação de População e Indicadores Sociais, informa que 13,5 milhões de brasileiros vivem com apenas R$ 145 mensalmente, portanto em condição de miséria.”
Acrescem-se à atual situação os efeitos da crise iniciada em maio/2014: Estadão de 22/05/2018, página B2, “PAPER”22 de 04/07/2018, mais de quatro mil empresas de médio e grande porte estavam em Recuperação Judicial. Em 2015, citado no “PAPER”2 de 16/10/2017, foram fechadas 100 mil lojas (de ruas) e 18 mil lojas de shopping. Em Estadão de 07/10/2017, página B3, 20 mil empresas de grande porte, clientes dos cinco maiores bancos, estavam em Recuperação Judicial.
O Brasil tem condição geopolítica privilegiada (grandes território e população, geografia, “status” industrial/empresarial, riquezas naturais, cultura diversificada), porém ainda não conseguiu habilitar-se como “player” diante das cinco maiores potências econômicas do mundo.
A partir dessa realidade, devem ser elaborados os planos da reconstrução política e econômica, de efeitos sociais, estrategicamente estruturados, com revisões aos cinco, dez, vinte, cinquenta anos, ouvindo a sociedade como um todo permanentemente e de pensadores e de empreendedores, incluídos os que não sejam integrantes de governos. Os planos devem ser concebidos pelos líderes da Nação (todos: políticos, empreendedores, acadêmicos, intelectuais, professores, estudantes, religiosos, sindicalistas, representantes da sociedade civil organizada), mesmo considerando a atual escassez de estadistas, não só no Brasil. É fazer com o que temos. Nosso “radar” capta que enquanto os governos e a sociedade civil tratam das providências (saúde + economia) devemos também tratar do futuro: desenvolvimento econômico que beneficie toda a população para o fortalecimento da economia, condição para enfrentar as próximas crises, de qualquer natureza. Esses planos devem se iniciar por adequadas condições institucionais hábeis para o país progredir. “A recuperação poderá ser dolorosa, mas a partir do momento em que prevalecer a convicção de que a pandemia terá ido embora, tudo poderá ficar mais suportável.
O problema é que não há como garantir nem isso, porque o País está sem comando. Se no momento não há liderança nem na estratégia de enfrentamento de uma crise tão grave, também tende a faltar na hora de recolocar a casa em ordem.” (Celso Ming, Estadão de 12/04/2020, página B2)
Já é tempo de os líderes estarem se organizando para tal relevante empreitada. “Qualquer burro pode derrubar um celeiro, mas só um carpinteiro pode reconstruí-lo” (Jean-Paul Sartre – 1905-1980, filósofo francês)
“As apostas do que cada um de nós está tentando fazer são altas demais para nos deixarmos levar pela tagarelice dos noticiários ou o ruído da multidão. Os “insights” que buscamos estão muitas vezes enterrados e raramente são óbvios – para encontrá-los, precisamos ser capazes de olhar com profundidade, de perceber aquilo que os outros são incapazes de notar.” (Ryan Holliday)
“Continuamente nos defrontamos com uma série de grandes oportunidades brilhantemente disfarçadas sob a forma de problemas insolúveis.” (John W. Gardner)
“… e não te esqueças de que toda crise é fonte sublime de espírito renovador para os que sabem ter esperança.” (Emmanuel, “Vinha da luz”)
A democracia fundada no Estado de Direito e na cidadania não é uma estação de chegada, mas uma maneira de viajar, visando desenvolvimento econômico, político e social para tornar o Brasil o melhor país do mundo para se viver bem.