Região vê explosão em apreensões de ‘supermaconha’ em barcos
O Estado de S. Paulo, 19/05/2024
As apreensões de skunk, droga também conhecida como “supermaconha”, têm crescido em embarcações que circulam por Estados como Amazonas e Pará, segundo autoridades. Assim como a cocaína, a droga vem sendo importada de países vizinhos, como Peru e Colômbia, por facções que atuam na região.
O avanço do narcotráfico fez rios como Madeira, Amazonas e Solimões virarem palco de disputa entre organizações criminosas como o Comando Vermelho (CV), considerado soberano na região, e o Primeiro Comando da Capital (PCC), maior facção do País.
O destino final das drogas pode ser tanto o mercado interno – o Brasil é o segundo maior consumidor de cocaína do mundo – quanto continentes como África, Europa e Ásia. No segundo caso, costuma ter papel central no envio das remessas ao exterior o Porto de Vila do Conde, em Barcarena (PA), um dos principais do País.
“Tem se tornando bem comum, quando ocorre a apreensão de cocaína, ter skunk junto ou às vezes a apreensão ser só de skunk”, disse ao Estadão o secretário de Segurança Pública do Estado do Pará, Ualame Machado, em entrevista concedida em abril. “A Colômbia, que, por décadas, foi a maior produtora de cocaína, hoje não é mais. Hoje são Peru e Bolívia. Então, a Colômbia passou a produzir, além da cocaína, o skunk”, continuou ele, que antes ocupou o posto de superintendente da Polícia Federal no Pará.
Essa mudança de foco do tráfico, afirma, gerou uma explosão de apreensões da droga em rios do Estado. Segundo balanço da Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social do Pará (Segup), entre 2019 e 2021, meia tonelada de entorpecentes foi apreendida na malha fluvial do Estado.
Recentemente, a apreensão de skunk em rios subiu 31% em um período de dois anos no Amazonas. Ao todo, 19,1 toneladas da droga foram apreendidas ao longo de todo o ano de 2022, ante 14,5 toneladas em 2020. No ano passado, foram 15,6 toneladas apreendidas. Já neste ano, somente de janeiro a fevereiro, foram 5,9 toneladas, o que volta a indicar uma nova tendência de alta nas apreensões de skunk.
Para se ter um parâmetro, no mesmo período deste ano foram apreendidos 303 quilos de cocaína. Em 2023, quando houve o pico das apreensões desse tipo de droga, foram 3,3 toneladas. “A apreensão de skunk subiu porque, quando se faz uma apreensão dessa droga, o custo para o tráfico é menor, já que ela tem um valor agregado menor do que a cocaína”, disse ao Estadão o secretário de Segurança Pública do Amazonas, Marcus Vinícius Oliveira de Almeida.
MERCADO NACIONAL. De acordo com ele, há dinâmicas distintas no tráfico de drogas na região. “O skunk é muito usado no mercado nacional, normalmente não é para exportação. Já a cocaína, geralmente uma parte fica e o resto vai para Europa, principalmente”, explicou o secretário.
No último dia 30, uma mulher de 26 anos foi presa pela Polícia Militar do Amazonas (PM-AM), em fiscalização na base Arpão 1, após ter sido flagrada com 15 quilos de skunk dentro da mala. A droga foi localizada pelos agentes com auxílio de um cão farejador.
No ano passado, a PM amazonense, em conjunto com a Polícia Federal, apreendeu 600 quilos de skunk em Santa Isabel do Rio Negro, a 630 quilômetros de Manaus. Dois homens, de 63 e 34 anos, de nacionalidade colombiana, foram presos. Só neste caso, o prejuízo estimado ao crime organizado foi de R$ 12 milhões, segundo a Secretaria da Segurança Pública do Amazonas.
Atualmente, o Comando Vermelho é considerado dominante na Região Norte, mas o PCC também tem buscado avançar pela região. “Até agora, eles não têm conseguido. Eles têm, no máximo, uns 10%, 15% de atuação por aqui. São quatro ou cinco bairros em que eles fazem a comercialização de drogas na cidade de Manaus”, disse Almeida.
Ainda assim, o secretário afirma que o foco do PCC na região é menos a ocupação de territórios, mas “muito mais empresarial”. “Para eles, é muito mais interessante fazer o que eles fizeram, que foi o controle de produção no Peru”, afirmou.
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