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Título do Tesouro Direto é a grande aposta de gestor da Verde Asset

Luis Stuhlberger afirma que títulos de inflação do Tesouro Direto, especialmente os que possuem vencimentos mais longos, têm apresentado um ‘juro real insano’

Por Jenne Andrade, O Estado de S. Paulo, 22/04/2024

Luis Stuhlberger, da Verde Asset, está focado em um ativo de renda fixa. Em evento realizado pela Hedge Investments no dia 20 de março, o famoso gestor destacou o “juro real insano” oferecido pelos títulos de inflação do Tesouro Direto, especialmente aqueles com vencimentos longos.

As NTN-Bs, ou Tesouro IPCA+, são emitidas pelo Tesouro Nacional para financiar a dívida pública do governo. Elas pagam a variação da inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) mais uma rentabilidade prefixada anual – o tal do “juro real”.

No final de março, quando Stuhlberger falou do ativo, tanto os títulos do Tesouro IPCA+ com o vencimento mais curto (para 2029) quanto aqueles com vencimentos longos (2045 e 2055) encostavam em 6% de rentabilidade real ao ano. “Qualquer conta de matemática elementar diz o seguinte: se o Brasil tiver até 2060 um juro desse tamanho, o País quebrou no caminho. Não dá para chegar em um juro desse, é u ma oportunidade imensa”, disse Stuhlberger durante o evento.

Só que de lá para cá, as taxas avançaram ainda mais. Até a última sexta-feira, dado mais recente, somente o Tesouro IPCA+ 2035 apresentava rendimento inferior à marca de 6%: 5,8% ao ano. O restante apresentava rentabilidades reais entre 6% e 6,06%

Os especialistas consultados pelo E-Investidor, plataforma digital com informações sobre investimentos do Estadão, também enxergam o Tesouro IPCA+ como uma grande oportunidade de compra no momento. “Olhando o histórico de taxas de juros reais no Brasil, retorno real de 6% é considerado pico de alta, é um momento oportuno para investir. E ainda mais falando de Tesouro Direto, cujos ativos são considerados livres de risco”, afirma Simone Albertoni, especialista em renda fixa na Ágora Investimentos.

Essa também é a visão de Rodrigo Caetano, analista da Toro Investimentos, e de Marilia Fontes, sócia-fundadora da Nord Research. “Os títulos IPCA + com taxas reais de 6% são ótimas oportunidades de alocação para os investidores”, aponta Caetano. “Realmente são taxas muito altas”, diz Marilia.

PECULIARIDADE. O patamar de rentabilidade de 6% de juro real ao ano em um título público é um evento atípico, normalmente atingido em tempos de “crise” ou “estresse econômico” no País. Afinal, quanto maior a desconfiança dos investidores em relação à capacidade do governo de pagar suas obrigações financeiras no futuro, mais prêmio eles exigem para financiar a dívida pública. Uma tendência de aversão a risco joga as rentabilidades dos títulos públicos para o alto.

De acordo com levantamento feito pela Quantum Finance, nos últimos 10 anos (2014 a 2024), em média, os títulos de inflação permaneceram com rendimentos reais iguais ou acima de 6% ao ano em menos de 25% das sessões. E, claro, com alguns períodos de “jejum”.

Para Simone, o que levou as taxas a superarem os 6% de juro real nos últimos dias foi a junção dos riscos externos e internos. Lá fora, os EUA mantêm desde julho do ano passado uma taxa de juros entre 5,25% e 5,5% ao ano, a maior em mais de duas décadas, e ainda sem previsão de cortes. Taxas mais altas nos títulos do Tesouro Americano pesam também sobre os juros no mercado brasileiro. “Nem o nosso último resultado do IPCA em março, que veio abaixo das expectativas, ajudou a segurar a abertura da curva de juros (aumento das expectativas para os juros futuros do Brasil)”, diz.

O cenário fiscal do Brasil, por sua vez, contribui para a percepção de um risco maior por parte dos investidores e, consequentemente, aumento das expectativas para os juros no futuro. Na semana passada, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, confirmou um a mudança na meta do arcabouço fiscal para o ano que vem. Agora, em vez de superávit (quando as receitas do governo superam as despesas) de 0,5%, o objetivo vai ser de déficit zero. “As questões fiscais no Brasil ainda apresentam efeitos negativos na precificação dos títulos, fazendo com que as taxas, principalmente, as de longo prazo permaneçam em níveis elevados”, afirma Caetano.

Os títulos públicos são considerados os investimentos de menor risco do mercado, já que são emitidos pelo governo. A chance de calote é mínima em comparação aos demais ativos de renda fixa, emitidos por bancos, e renda variável, lastreados em empresas. Entretanto, há chance de prejuízo.

Os títulos de inflação, assim como os prefixados, são sujeitos a efeitos de “marcação a mercado”. Caso o investidor compre um Tesouro IPCA+ com vencimento para 2045 e decida retirar o dinheiro antes desta data, terá que vender o papel no mercado secundário, se submetendo a regras de oferta e demanda. Se o título oferecer um rendimento real acima do que está sendo ofertado pelo Tesouro Direto no mesm o momento, poderá ser vendido com lucro. Na situação contrária, com rendimento abaixo, haverá deságio.

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