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Extrema direita deve ganhar espaço e modificar políticas da UE

Insatisfação com rumos do bloco tem sido combustível para legendas radicais, que avançam para crescimento histórico no Legislativo europeu

Por Daniel Gateno, O Estado de S. Paulo, 08/06/2024

Com uma Europa em transformação, muitos de seus eleitores que estão definindo o novo Parlamento Europeu desejam políticas mais restritivas e menos regulações, em vez de integração e abertura. O reflexo dessa insatisfação pode dar à extrema direita europeia seu melhor resultado eleitoral na história, segundo pesquisas, e o poder de alterar políticas sobre temas caros ao bloco.

Desde quinta-feira – até amanhã –, mais de 370 milhões de europeus decidem os 720 eurodeputados capazes de ditar os rumos da União Europeia. A extrema direita deve se sobressair em alguns dos principais países do bloco, como Alemanha, França, Holanda, Espanha, Itália e Portugal.

Segundo a cientista política e diretora do Instituto de Assuntos Internacionais da Itália Nathalie Tocci, o projeto político europeu ficou mais polarizado. “Antes os eleitores votavam no Parlamento Europeu com base nas questões nacionais de cada país e por isso a participação popular era baixa. Agora, as questões são cada vez mais europeias. Mesmo as pessoas que são contra a UE estão votando. Antes, elas ficavam em casa”, diz Tocci.

A disputa eleitoral será um referendo sobre os principais temas debatidos no Parlamento Europeu nos últimos anos, como imigração, política ambiental e economia. A crise de competitividade da Europa também deve ser avaliada, segundo o professor de Ciência Política da Universidade de Lisboa, António Costa. “O que cimenta o bloco é a Europa econômica e como se relaciona e compete com China e EUA.”

Mario Draghi, ex-primeiroministro da Itália e ex-presidente do Banco Central Europeu, preparou um relatório sobre a competitividade europeia que deixou para divulgar após a eleição. Ele antecipou ao New York Times que o bloco precisa de uma “mudança radical”. Segundo ele, a União Europeia tem muitas regulamentações e sua liderança em Bruxelas tem pouco poder. O argumento é prato cheio para os radicais.

Outros dois temas-chave têm impulsionado os partidos de extrema direita. Em abril, o Parlamento Europeu aprovou uma reforma que endurece o controle das fronteiras e estabelece regras para os 27 países membros lidarem com refugiados que tentarem entrar no bloco sem autorização. Mas para as legendas mais radicais, as mudanças não foram suficientes para lidar com o tema. Em suas campanhas, elas defenderam maior endurecimento. “A imigração tem sido o tema mais mobilizador da direita radical”, aponta Costa.

A extrema direita também tenta se aproveitar da crescente revolta entre os agricultores. O setor tem protestado desde fevereiro e reclama da burocracia complexa da UE, rendimentos muito baixos, inflação, concorrência externa e acúmulo de regulamentações. Candidatos que prometeram ouvir suas demandas podem remodelar a política europeia e fazer o Parlamento dar um passo atrás em algumas regulações. O novo Legislativo terá a tarefa de encontrar um equilíbrio entre reformas que funcionem para os agricultores e a minimização dos danos que a agricultura pode causar ao ambiente.

DIVERGÊNCIAS. Mas para mudar as políticas do bloco os partidos precisarão se entender. Atualmente, há uma divisão entre duas coalizões. De um lado, a Identidade e Democracia (ID), liderada pelo partido Reagrupamento Nacional, da francesa Marine Le Pen. Do outro, a Reformistas e Conservadores Europeus (RCE), sob comando da primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni.

Apesar de uma agenda comum em temas de imigração e um ceticismo quanto à UE, os dois grupos discordam, sobretudo, no apoio à guerra na Ucrânia. Enquanto a primeiraministra italiana é próUcrânia, Le Pen é mais conservadora no apoio a Kiev.

Para Tocci, a falta de habilidade para trabalhar junto pode reduzir a influência dessa ala radical no Parlamento. “São tão nacionalistas que na arena internacional não conseguem cooperar”, diz ela.

Nas eleições para o Parlamento, os 27 países votam nos partidos nacionais, que se juntam em grupos de maior afinidade política depois de eleitos.

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