Recuperação judicial tem alta de 52% no 1º semestre no País
Lucas Agrela, O Estado de S. Paulo, 22/07/2023
O número de pedidos de recuperação judicial chegou a 593 no primeiro semestre deste ano no País, o que representou aumento de 52,1% em relação a igual período de 2022. Tratase do maior volume em três anos, segundo dados do Serasa Experian.
O período foi marcado por pedidos de recuperação judicial com dívidas bilionárias, como aconteceu com Americanas, Light, Oi, Grupo Petrópolis, Raiola, Nexpre e Avibrás, que somam débitos de mais de R$ 100 bilhões. O resultado, segundo especialistas, é reflexo de um cenário em que as empresas tiveram de conviver tanto com o fim dos programas governamentais de socorro criados durante a pandemia quanto com o vencimento de dívidas renegociadas no passado pelos bancos com juros altos (Selic de 13,75%, a maior desde 2017).
A negociação com os bancos endureceu no começo deste ano, não só devido ao caso da Americanas, mas também ao custo dos empréstimos, estimados por analistas na casa dos 19% ao ano. Isso jogou várias empresas para a esfera judicial para manter seus negócios.
Na visão de Luiz Rabi, economista-chefe do Serasa Experian, o aumento do endividamento das empresas é resultado do cenário macroeconômico e da subida dos juros desde o ano passado, o que não só encareceu o crédito corporativo como também causou fuga de investidores da Bolsa.
O setor de serviços foi o que mais sofreu. Cerca de 44% dos pedidos do primeiro semestre foram desse segmento. “É a área em que tem ocorrido a maioria dos casos de recuperação judicial, até por ter sido a mais prejudicada pela pandemia”, afirma Rabi.
FALÊNCIAS. A quantidade de falências de empresas também chegou ao maior patamar desde 2019, atingindo 546 casos no primeiro semestre deste ano. Segundo o Serasa, os setores mais afetados foram, respectivamente, serviços (220), indústria (172) e comércio (150). Entre os registros de falências, a maioria foi de micro e pequenas empresas (303), depois médias empresas (129) e, por fim, grandes empresas (114).
Segundo especialistas ouvidos pelo Estadão, o auge dos pedidos de proteção da Justiça e das falências deve ser este ano, com perspectiva de melhoria no ano que vem. “O juro subiu muito rapidamente, e as companhias tinham gordura de caixa para queimar, o que lhes deu algum tempo. A recuperação judicial é uma ferramenta usada apenas quando não há mais nenhuma outra”, afirma o diretor executivo sênior da FTI Consulting, Luciano Lindemann.
Com avanços na economia ligados ao controle da inflação, a sinalização do Banco Central quanto à queda dos juros e a aprovação da reforma tributária na Câmara, o ambiente de negócios tende a melhorar no País a partir deste semestre.
Rabi, do Serasa, afirma que o endividamento das empresas começou com a inadimplência dos consumidores, seguida pelo aumento do custo de financiamentos e pela dificuldade de rolagem de dívidas. Porém, isso vem mudando. “Estamos no patamar de 6,5 milhões de empresas inadimplentes desde fevereiro. É um patamar alto, mas que vem se estabilizando.”
Apesar de o cenário estar melhorando, um levantamento da FTI Consulting aponta que as empresas brasileiras listadas na Bolsa de Valores têm dívidas de R$ 100 bilhões com vencimento para 2024 – o que pode significar novo pico de recuperações caso os juros não caiam.
ARTIGO948